Mostrando postagens com marcador capítulo 1. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador capítulo 1. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 25 de junho de 2025

O acaso a meu favor - Página 11

Pagina 11 – Capitulo 01.

 Por Clara...

No início, quando descobri que seriam meus patrões os clientes da mesa reservada, confesso: fiquei muito nervosa. Tive medo de não estar à altura, de não conseguir atender de forma adequada. Mas logo reconheci ali uma oportunidade — minha chance de mostrar, com elegância, o quanto sou capaz de atender qualquer cliente com profissionalismo. E, quem sabe, também de limpar a imagem que deixei com eles depois do que aconteceu ontem. Era o momento ideal para esfregar na cara daquela "mulherzinha" o quanto estou preparada — dentro ou fora do mercado.

Vi Igor me chamando discretamente com um gesto da mão. Fiquei um pouco envergonhada, já que haviam dito que não pediriam mais nada. Imaginei que fosse por uma taça extra de vinho, talvez uma água ou algo simples. Mas o que ele disse — ali, na frente de toda a mesa — me desestruturou completamente naquela noite.

Igor pigarreou, visivelmente desconfortável, e com um olhar breve para a irmã, começou a dizer algo que soou como o início de um pedido de desculpas. Observei Verônica, percebendo a intenção, ajeitou-se na cadeira e tentou acompanhá-lo, como se quisesse reforçar a iniciativa. Mas sendo quem sou, com um sorriso gentil e um olhar sereno, os interrompo com educação:


— Acho que essa conversa merece um momento mais apropriado... Hoje é noite de família.


Meu tom foi firme, mas respeitoso, e isso pegou Verônica e Igor de surpresa. Pela primeira vez,  acho que eles não viram apenas uma funcionária esgotada — viram uma mulher que sabia o próprio valor e tinha muito discernimento. E, mesmo sem dizer uma palavra, espero ter deixado claro a Verônica, que sou muito mais do que ela havia imaginado.

Com um suspiro discreto, abaixo levemente o olhar e digo, ainda mantendo o tom calmo:


— Eu também reconheço que naquele dia eu estava cansada... talvez mais do que deveria. O horário puxado e as responsabilidades acumuladas me deixaram no limite. Mas vou me esforçar para que isso não volte a acontecer. Quero continuar crescendo — e aprendendo com tudo isso.

 

Acho que consegui ver, naquele rosto sempre tão semelhante ao da dona Vanda, algo que ousava parecer um esboço de sorriso. Um quase-sorriso, talvez. Mas já era extremamente tarde. Após dizer isso, me despedi com cordialidade e os deixei aos cuidados de um colega garçom para finalizarem o pagamento.

 

Na saída, Igor — como eu já imaginava — se despediu de mim com um sorriso largo, gentil, acompanhado da namorada, que também acenou de forma calorosa. Já Verônica...

 

Verônica apenas inclinou levemente a cabeça. Um gesto controlado, contido, quase mecânico. Nada além do essencial.

 

E eu, com o mesmo controle que me ensinou a sobreviver nesse tipo de situação, repeti o gesto, forçando um sorriso pequeno, sem mostrar os dentes. Apenas o suficiente para encerrar aquele teatro educado que chamamos de civilidade.

 

Só depois que eles se foram é que percebi: estava prendendo a respiração desde o momento em que ela entrou naquele restaurante.

 

E finalmente, naquela noite, eu consegui respirar.

 

De portas fechadas e expediente encerrado, só nos restava organizar a bagunça da noite. Sob o olhar atento de dona Vanda, limpávamos tudo de forma descontraída. Às vezes, ela até se deixava rir de alguma besteira que soltávamos no meio da arrumação — um comentário bobo, uma imitação exagerada de algum cliente — mas, mesmo rindo, seus olhos não deixavam de acompanhar a contagem do caixa com precisão quase militar.

 

Aos poucos, quem já havia finalizado suas funções foi se despedindo com abraços apressados, piadas internas e o cansaço visível nos ombros. Até que, por fim, restamos apenas eu e dona Vanda.

 

O silêncio que ficou não era desconfortável. Era familiar. Um daqueles silêncios que só se constrói depois de muitos turnos compartilhados, muitos fechamentos, muitos cafés passados depois da meia-noite.

Terminando tudo que havia para fazer, dona Vanda me perguntou:

 

— Quer carona pra casa?

 

Ela sempre oferece. E eu, de forma quase envergonhada, sempre recuso. Ela apenas assente com a cabeça e não insiste, o que — sinceramente — agradeço.

 

O restaurante não fica muito longe da minha casa. E, depois de um dia como esse, tudo o que eu quero é chegar, tomar um banho demorado e... asfixiar aquele safado do Bento com meus cheiro. Até nós dois acabarmos nos limpando juntos — eu tirando o pelo dele da minha roupa, e ele lambendo cada beijo que eu tentar distribuir naquela barriguinha de ração.


Próxima página - O acaso a meu favor

Capítulo 2 - Página 12

O acaso a meu favor - Página 10

 Pagina 10 – Capitulo 01

Por Verônica...

Conversando animadamente com minha cunhada, precisei olhar duas vezes para ter certeza de que meus olhos não estavam me pregando uma peça. Não. É ela mesmo.

Não acredito que arrumou outro emprego tão rápido assim… ou será que está se desdobrando em dois? Multitarefas, aparentemente. Impressionante.

E por que, exatamente, estou me fazendo perguntas sobre essa garota?

A mesma garota que — por culpa minha, admito em pensamentos — saiu da última vez que nos vimos num clima, digamos… tempestuoso.

Coincidência? Destino? Ou o universo apenas rindo da minha cara?

Franzi os lábios. Mantive a postura. Mas por dentro, meu cérebro estava em uma reunião urgente com minha dignidade.

Igor, meu irmão, a reconheceu imediatamente e, com um sorriso educado, a cumprimentou de maneira cordial.

— Boa noite, Clara — disse, com um misto de surpresa e alegria ao vê-la. — Não sabia que trabalhava aqui também.

 

O tom foi suave. Aquele tipo de suavidade que disfarça curiosidade. Claramente, ele estava sondando — tentando descobrir se ela realmente havia arranjado outro emprego depois do... incidente.

— Sempre que posso, trabalho algumas noites para Dona Vanda — respondeu ela, gentil, quase doce.

Quase.

Nem parece a mesma a garota que, até ontem, me atendeu com o maior sarcasmo do mundo — sarcasmo merecido, diga-se de passagem. Mas ainda assim, afiado como uma navalha.

Tudo estava fluindo bem naquela noite. Analisando cada movimento seu, percebo ela ir buscar algo, que acredito eu ser os cardápios.

Com três cardápios nas mãos, Clara os distribui pela mesa com a precisão de quem domina seu espaço. Primeiro para minha cunhada, depois para Igor... e, por fim, para mim.

 

Nada de contato físico. Nem mesmo o toque acidental dos dedos que poderia render mais do que deveria. Apenas um leve deslizar do cardápio na minha direção — como se eu fosse só mais uma cliente qualquer.

 

Rápidos olhares foram trocados. Dela, um quase imperceptível. Meu, calculado. Só o suficiente para avaliar se havia, sob aquela máscara profissional, algum traço de ironia, desconforto ou... qualquer coisa. Mas não. Nada. Frieza absoluta. E isso, por alguma razão que prefiro não explorar neste momento, me irrita mais do que qualquer provocação direta.

 

Ela nos deu dois minutos para folhear os cardápios e retornou, pontual como um relógio suíço.

 

— Vocês gostariam de iniciar pedindo alguma bebida específica? — perguntou, olhando primeiro para Igor, como manda o protocolo social — e talvez como um lembrete de que entre mim e ela há uma grande barreira iniciada,

 

— Eu vou de suco de abacaxi com hortelã, por favor — respondeu ele, sorrindo como sempre.

 

— Uma água com gás pra mim — disse minha cunhada, distraída com as fotos das sobremesas.

 

Clara anotou tudo com aquele mesmo ar tranquilo. Depois, olhou para mim.

 

Pausa de um segundo a mais do que o necessário.

 

— E para a senhora?

 

“Senhora.”

 

O veneno veio sem nem alterar o tom da voz. Clara, minha até então funcionária, me chamando de "senhora" como se estivéssemos em um tribunal. 

— Uma taça de vinho tinto — respondi, cruzando as pernas e devolvendo o olhar com a calma de quem já matou uma reunião com os olhos.

 

— Excelente escolha — ela disse, com um leve aceno, e então se afastou, deixando apenas o som dos talheres e do meu orgulho rangendo entre os dentes.

 

 Pedidos feitos, pratos servidos, e Clara seguia pelo salão como se fosse parte da arquitetura do lugar — discreta, mas absolutamente presente. Havia algo na maneira como ela se movia... um equilíbrio entre leveza e autoridade. O pequeno sorriso que carregava no rosto não parecia esforço; era quase natural. Irritantemente natural.

Percebo, com certo desconforto, que muitos dos clientes — alguns nomes conhecidos, inclusive — a cumprimentavam com familiaridade. Pequenas piadas, olhares cúmplices, comentários que só se trocam com quem já conquistou a confiança do lugar.

 

E ela, como sempre, atenta. Um olho no salão, outro no rádio discreto preso à orelha. Em determinado momento, murmurou algo no microfone com a agilidade de quem não apenas está acostumada, mas claramente é ouvida. O tipo de presença que comanda, mesmo sem levantar a voz.

 

Fascinante.

Irritante.

Confusa.

 

Enquanto isso, meu irmão — querido e, por vezes, dramaticamente sensível — já havia bebido consideravelmente da sua terceira taça de vinho, como quem precisava de coragem líquida.

 

Clara se aproximou da nossa mesa de maneira suave, discreta, sem jamais parecer invasiva. Sua presença, curiosamente, nos deixava à vontade. Com gentileza, perguntou se precisávamos de mais alguma coisa, e todos negamos com pequenos acenos de cabeça.

 

Querendo ou não, ressalvo. A maneira como ela nos fazia sentir visíveis e confortáveis — com atenção sutil, mas precisa — me faria vir jantar aqui todas as noites. Sem hesitação.


Pouco depois da sobremesa, ela retornou apenas para garantir que estávamos bem. Seu timing era perfeito: estávamos no meio de uma conversa que, graças ao meu irmão caçula, tomava rumos absurdamente cômicos. Clara entendeu o clima e simplesmente retirou todos os pratos da mesa sem interromper a troca de palavras, como quem entende o ritmo da música e sabe não desafinar.

 

Esse tipo de sensibilidade... não se aprende em curso nenhum.

 

Ela se afastou, nos deixando completamente à vontade, como se soubesse que, naquele momento, não precisávamos de serviço — apenas de espaço.

 

Meu irmão, por sua vez, já estava com a camisa social azul clara com as mangas dobradas até abaixo dos cotovelos, numa tentativa informal de parecer mais descontraído do que realmente é. As bochechas coradas denunciavam o vinho e o prazer genuíno que ele sentia da própria piada — uma piada que, honestamente, nem era tão boa assim.

Mas ele ria. Como quem vive leve. Como quem tem a sorte de não carregar fantasmas à mesa.

E eu? Eu apenas observava tudo, com um leve riso no rosto.

Próxima página - O acaso a meu favor

O acaso a meu favor - Página 09

 Pagina 09 – Capitulo 01

 

Agora, deitada no meu colchão surrado, encaro o teto como se alguma resposta fosse brotar dali. A verdade é que estou esgotada. Fisicamente. Mentalmente. Emocionalmente. Não foi só sobre o salário ou as funções acumuladas — foi sobre ser invisível. Sobre ninguém perceber o quanto tenho segurado as pontas ali dentro.

Fui grossa, sei disso. Mas a gente também cansa de engolir seco. Só que o medo agora está aqui, quieto, sentado do meu lado como um velho conhecido: “E se eu for mandada embora?”... “E se ninguém mais quiser me contratar depois disso?”... “Será que me excedi?”

Suspiro. Me viro para o lado, puxo o travesseiro e abraço como se pudesse me esconder dentro dele. Não quero chorar. Não hoje. Já chorei demais em silêncio dentro daquele banheiro dos fundos, entre uma pausa e outra. Mas dói. Dói porque eu gosto de lá. Gosto da ideia de fazer parte de algo. Só queria que, por um momento, alguém olhasse e dissesse: “Clara, eu vejo o que você faz.”

Acabo caindo no sono sem perceber, ainda com o uniforme amassado no corpo e a mente cheia de ruídos. Quando abro os olhos, já é noite — ou quase isso. A luz entra pela janela e bate direto no meu rosto, e por um instante esqueço do que aconteceu pela manhã.

Até o celular vibrar.

Pego o aparelho no criado-mudo e me deparo com uma enxurrada de notificações. No meio delas, uma me chama atenção: alguém havia criado um grupo novo. O nome aparece destacado: "Nova fase — Empório da Economia ".

Demoro alguns segundos para entender do que se trata. Abro com o coração batendo um pouco mais forte. Para minha surpresa, estão todos lá. Até eu. E, o mais inesperado: o grupo foi criado pela Verônica.

Engulo seco. Passo os olhos pelas mensagens — algumas desconfiadas, outras animadas. Uma em especial me paralisa por alguns segundos. É da própria Verônica:

“A partir de agora, nenhuma voz será ignorada. Vamos recomeçar. Juntos.”

Fico olhando para aquela frase como se ela fosse um enigma. Não sei se é o cansaço ou a esperança me pregando uma peça... mas sinto um nó se desfazendo dentro de mim. Ainda não sei o que isso significa exatamente, mas talvez... só talvez... algo esteja mudando.

E, pela primeira vez em muito tempo, deixo um sorriso escapar sem culpa.

Ao me levantar, me organizo para preparar algo para comer. Percebo que estava tão esgotada que dormi o dia todo sem nem notar. Aproveito o tempo para confirmar alguns bicos pelos próximos dias, já que o mercado estará passando por uma "reforma de gestão" — se é que posso chamar assim.

Hoje, pela primeira vez em muito tempo, sinto que posso dormir tranquila. Não porque tudo se resolveu, mas porque, enfim, parece que as coisas começaram a se mover.

                                                ....................................................................

 

Já são quase dezoito horas. Me visto com o uniforme que o restaurante me forneceu para os dias em que consigo fazer uns bicos por lá. Dona Vanda, a proprietária, é o tipo de mulher que entra em um ambiente e todo mundo percebe — fria, objetiva, e com um olhar que pesa mais que qualquer palavra. Nunca a vi desperdiçar tempo com gentilezas desnecessárias, mas também nunca deixou passar talento despercebido.

Outro dia, depois do expediente, lançou uma frase seca enquanto anotava algo no caderno de pedidos:

— Você tem mãos rápidas. Isso é raro.

Foi o mais próximo de um elogio que já ouvi dela. E vindo de Dona Vanda, é quase uma carta de recomendação assinada em ouro. Também disse, em tom quase imperceptível, que clientes pedem para serem atendidos por mim de novo. Disfarçou o elogio com um resmungo, mas eu entendi.

Acho que é meu carma trabalhar para mulheres de personalidade tão forte assim. Chegando no horário combinado, não me faço de rogada — vou direto ao ponto. Começo a organizar as mesas, alinhando os talheres com agilidade sobre as reservas já programadas para aquela noite.

Dona Vanda passou por mim com o mesmo ar firme de sempre, olhos atentos a cada detalhe. Parou por um instante e disse, sem rodeios:


— Clara, capriche nas mesas do fundo. Temos uma reserva para uma família importante hoje, e quero tudo impecável.


Assenti com a cabeça, sem perguntar nada. Já havia aprendido que, com ela, menos perguntas e mais ação era o melhor caminho. Só não imaginava que essa “família importante” era justamente a da Verônica.

A noite seguia tranquila, com os pedidos fluindo em um ritmo confortável. Eu me movia com leveza entre as mesas, servindo com sua típica eficiência silenciosa, os clientes sorrindo com o bom atendimento. Tudo estava sob controle — até que, por fim, a mesa mais aguardada da noite chegou. O som das cadeiras sendo puxadas, os passos firmes e vozes conhecidas me fizeram parar por um segundo. Meu coração bateu mais rápido ao reconhecer Verônica entre os convidados.

Dona Vanda foi à frente, como sempre fazia com mesas importantes, e eu a acompanho de perto, tentando manter o passo firme. Quando a família de Verônica entrou no restaurante, o ambiente pareceu desacelerar ao redor. Eu sentir um frio percorrer a espinha, o coração acelerado denunciando o meu nervosismo. Eu tentei forçar e me esconder atrás de um sorriso contido e uma postura profissional. Dona Vanda, impassível como sempre, fez um leve aceno com a cabeça ao cumprimentar os convidados, e lançou a mim um olhar rápido — não de crítica, mas de expectativa. Eu engoli a seco, ajeitei meu avental discretamente e, com voz firme, anuncio:


— Sejam muito bem-vindos. A partir de agora ficarei responsável pelo atendimento a mesa de vocês.

Próxima página - O acaso a meu favor

Página 10

O acaso a meu favor - Página 08

Pagina 08 – Capitulo 01.

 

 

Por Verônica...

 Depois de dispensar os funcionários por três dias — até conseguirmos resolver ao menos um por cento dessa bagunça —, restamos no mercado apenas eu, meu irmão e o gerente: Augusto.

Assim que os funcionários se despediram, memorizei onde a porta se fecha e apertei o botão. Virei-me para os dois homens ali presentes e, soltando um suspiro pesado, apenas disse:

— Agora, a reunião que precisa acontecer é entre nós.

Senti a tensão se instalar no ar, mas não me importei. Como diz o ditado: já que estou no inferno, o que me resta agora é abraçar o capeta.

Ao seguirmos para o antigo escritório do meu pai, percebo que quase tudo permanece no mesmo lugar — exceto por algumas reformas antigas, que hoje já mostram claros sinais de desgaste. O tempo parece ter passado, mas sem de fato transformar.

E então me dou conta: talvez a mudança que pretendo iniciar a partir de hoje não seja apenas na estrutura física deste mercado... mas também na forma como o enxergo. A menina que um dia via esse lugar com olhos de medo e admiração, agora precisa encará-lo com coragem e responsabilidade.

É como se, ao tocar essa porta, eu também estivesse tocando em tudo que meu pai tentou me ensinar — e que até hoje esteve adormecido dentro de mim.

 

— Antes de mais nada — comecei, cruzando os braços e olhando diretamente para Augusto —, quero deixar claro que o que aconteceu hoje aqui... foi inaceitável.

Ele tentou manter a postura, mas desviou o olhar por um instante. Silêncio. Meu irmão, sentado ao lado, ainda não havia dito uma palavra.

— Uma funcionária foi exposta, sobrecarregada, humilhada — continuei, firme —, e ninguém aqui teve a decência de me interromper para acabar com o abuso. Nem você, Augusto. 

Meu irmão ergueu os olhos, um pouco surpreso, talvez magoado, mas eu continuei:

— Lembra do papai, Igor? — perguntei, com a voz mais baixa, porém carregada de peso. — Ele sempre dizia que administrar um negócio era, acima de tudo, saber cuidar de pessoas. Que lucro nenhum vale o desgaste da dignidade de quem te ajuda a manter as portas abertas.

Olhei para Augusto de novo:

— Eu não fazia ideia... — murmurei, como se estivesse admitindo algo a mim mesma. — Pelas palavras dela, ficou claro. Clara estava cobrindo funções que não eram dela, deixando de folgar, se desdobrando para manter esse lugar de pé... como se fosse bem mais que uma funcionaria desse mercado. Mesmo recebendo pouco. Mesmo sem receber nada em troca além de pressão, descaso e uma carga de trabalho que deveria, no mínimo, ser dividida entre três. E a gente simplesmente... deixou.

Augusto tentou se justificar:

— Verônica, com todo respeito, eu...

— Respeito? — cortei, erguendo uma sobrancelha. — Você deixou que ela fosse tratada como uma máquina. E mais: deixou isso virar um padrão. Eu estou assumindo essa empresa porque meu pai nos ensinou que quem lidera precisa ser justo. Precisa ser firme, sim — mas nunca cego.

Olhei para Igor, com os olhos ardendo, não de raiva, mas de frustração.

— E você, meu irmão... Eu sei que está cansado. Sei que está perdido. Mas o silêncio que você manteve hoje foi ensurdecedor. Se você quer continuar nisso, vai ter que aprender a ser responsável pelas pessoas também. Não só pelos números.

Augusto abaixou a cabeça. Igor suspirou, passando a mão pelos cabelos.

— Então o que você quer fazer agora? — ele perguntou.

— Quero uma reunião com todos os funcionários assim que retornarem. E antes disso, Augusto, você vai me entregar um relatório detalhado de funções, salários, horários e carga de trabalho de cada um. Quero ver onde está o desvio. E Igor... — me aproximei —, você vai comigo pedir desculpas à Clara. Não só a ela, mas a todos que fizeram de tripas coração para entregar um excelente trabalho nesse mercado.

O silêncio durou mais alguns segundos. Então, Igor assentiu, com um leve aceno de cabeça.

Augusto engoliu seco e respondeu:

— Entendido.

Eu recuei um passo, respirei fundo e finalizei:

— Isso não é sobre assumir um mercado. É sobre honrar o nome do nosso pai. E eu não vou fazer isso pisando em ninguém.

                                           ................................................................

 

 

Ao chegar em casa, fui direto para o meu quarto, sem sequer tirar os sapatos. Precisei de um banho — não apenas para limpar o corpo, mas para tentar organizar o turbilhão de pensamentos que absorvi naquele mercado hoje. A água escorria, e junto dela, a culpa, a indignação e uma exaustão que parecia vir de anos acumulados em silêncio.

Como estava na casa do meu falecido pai, sabia exatamente onde encontrar a porta de seu antigo escritório — e que, como sempre, ela estaria entreaberta. Ao empurrá-la com suavidade, fui invadida por uma sensação nostálgica, quase sufocante. Não hesitei. Me dirigi direto à sua velha cadeira e me sentei com cuidado, como quem busca abrigo em meio à tempestade. Naquele instante, mais do que nunca, eu precisava sentir o abraço dele — mesmo que só em memória.

 

O silêncio da sala parecia pesar sobre meus ombros como chumbo. O ar parado, a luz do fim de tarde atravessando as persianas, e a ficha... enfim caindo. Eu tinha sido dura demais. Clara, com seus olhos cansados, sua postura reta mesmo quando o mundo pesava, merecia mais que a minha frieza administrativa.

Sentei na velha cadeira de couro no escritório que ainda guardava o cheiro do meu pai. Era como se ele nunca tivesse saído dali. Fechei os olhos... e como em um sussurro antigo, a memória veio.

— Nunca se esqueça disso, Verônica — dizia ele, com aquele tom calmo, mas firme, enquanto ajeitava a manga da camisa —, números são importantes, metas também. Mas quem move tudo isso... são pessoas.

Eu tinha uns vinte e poucos anos, recém-formada, cheia de ideias novas. E cheia de pressa.

— Acha que pode controlar uma empresa com fórmulas e planilhas? Pode, por um tempo. Mas chega uma hora que tudo racha. E quando rachar, quem vai te segurar são as mãos que você respeitou — ele me olhou, sério. — Ou que você ignorou.

Lembro de tê-lo desafiado com o olhar, ainda arrogante:

— E se essas pessoas falharem?

— Então você ensina. Ou escuta. Gente não é máquina, filha. Gente sente. E gente que sente, trabalha por amor... ou por medo. Só uma dessas opções constrói algo que vale a pena.

Abri os olhos de volta ao presente.

Clara não precisava do meu medo. Nem da minha autoridade. Ela precisava do que meu pai chamava de "olhar de verdade". Aquele que enxerga o esforço mesmo quando ele não está estampado em relatórios.

Respirei fundo. A dor de reconhecer o erro queimava, mas também limpava. Era hora de agir.

Mesmo carregando a culpa nos ombros, não pude evitar o orgulho que senti. Orgulho por, de certa forma, estar imitando cada gesto do velho Heitor. Meu pai sempre quis que os filhos tivessem a mesma força de personalidade que ele — uma força que ele nunca precisou gritar, mas que exalava em silêncio. E acho que conseguiu. Pelo menos, em mim, essa força vive e pulsa. Sinto isso.

 Próxima página - O acaso a meu favor

Página 09

O acaso a meu favor - Página 07

 Pagina 07 – Capitulo 01.

 

 Por Verônica....


 Ao ouvir o que aquela funcionária disse sobre os abusos sofridos aqui no mercado, eu fiquei sem palavras. Completamente sem palavras. Vê-la saindo dali como culpada por algo que agora é responsabilidade minha desestruturou todos os meus argumentos. Então percebo que o erro está muito além de maus funcionários; está na maneira como são tratados.

Sem reação, chamo a atenção de todos ali presentes e comunico algo que, talvez, se meu pai estivesse vivo, nunca aconteceria.

— O mercado ficará fechado por três dias. — Vejo a reação de espanto no rosto de todos, inclusive do meu irmão. — Esses três dias serão abatidos no banco de horas de vocês.

Percebo o alívio de uns, mas a frustração de outros também. Por isso, solto o verbo para todos escutarem.

— Se alguém tiver algo contra, que me comunique imediatamente! — Vejo o arregalar de olhos de alguns e a fúria no olhar de outros. — A partir de hoje, a gestão deste mercado muda. Podendo ser favorável para uns e desfavorável para outros. Vocês decidem!

É agora ou nunca. Não irei mais nutrir funcionários ruins punindo os bons. Essa gestão horrenda acaba agora. Peço um papel em branco e uma caneta ao gerente; ele, sem pestanejar, logo me traz o que preciso.

— Preciso do contato de cada colaborador presente, inclusive o da funcionária que acabou de passar por aquela porta. E daqueles que não estão presentes também. — Digo de maneira séria e direta. — Apenas o primeiro nome, função, o número e o turno já são suficientes.

Ao ver o primeiro funcionário pegar a caneta da minha mão, o vejo assinar rapidamente todos os dados que pedi — e assim foi com o próximo, e o próximo. Pego o papel em minhas mãos e vejo que alguém adicionou o número dos que não estão presentes. E o da Clara.

— Bom, meu intuito em ter o contato de vocês é porque quero conhecê-los.

Vejo algumas reações suspeitas, o que é normal, já que duvido que a maioria das empresas queira ter esse contato.

— Irei fazer um grupo, onde direi algumas novas regras sobre o emprego de vocês, porém tudo dentro da lei que protege cada direito do trabalhador. — Com olhos e ouvidos atentos, tenho mais uma vez a atenção de todos.

— Teremos uma reunião formal no dia em que voltarem às atividades normais aqui no mercado. — Sinto que, mesmo colocando as cartas na mesa, alguns colaboradores ainda estão insatisfeitos.

— E digo mais: se alguém entre vocês não estiver de acordo com nada que for imposto sobre a função de vocês, iremos dispensá-los, cada um com seus devidos direitos. Sem mais, nem menos.

Olho para aquele homem que se diz gerente deste mercado. Minha expressão séria e minimalista indica o quão egocêntrico e egoísta ele parece ser, agindo sempre em benefício próprio. Não é um defeito ser assim — mas agir dessa maneira com pessoas honestas, cujo único motivo é levar o sustento para casa, jamais.

Errei ao subestimar aquela garota, insinuando sua falta de responsabilidade com o emprego. Percebi que ela foi apenas mais uma vítima de um sistema manipulador, onde se paga um único salário a uma pessoa e se exige que ela exerça duas, três funções a mais — como foi o desabafo dela há pouco.

 

Não quero seguir adiante com uma gestão tão cruel assim. Por mais que eu não devesse me preocupar com isso neste momento, no fundo me importo. São pessoas sendo maltratadas por um sistema em que o governo atual não quer apenas a sua mão de obra, mas também lucrar em cima dos seus salários — os famosos impostos. Corrigirei meu erro com aquela menina — isso se ela não estiver, neste exato momento, contratando um advogado para nos processar por assédio moral.

Aquela garota parece ser meio marrenta, e quanto ao humor irritante... nem se fala. Mas, no momento em que deixou claro que vestia a camisa desta empresa sem ganhar nem um centavo a mais — e, pelo visto, ganhando muito menos do que em qualquer outra empresa aqui em Caldas Novas —, tudo mudou. Não significa que gostei da maneira como ela me abordou, mas, naquele caso, eu mereci ser tratada daquela forma. Agora, preciso ter uma reunião com o responsável por aquele abuso ter tomado a proporção que tomou: o Igor.

Nessa turbulência toda, não vi meu irmão abrir a boca para dizer uma só palavra. Com um olhar atento a tudo e a todos, o que talvez lhe reste seja mesmo o silêncio.

Próxima página - O acaso a meu favor

Página 08

O acaso a meu favor - Página 06

 Pagina 06 – Capitulo 01.

 

Por clara...


Ao ouvir oque a minha até então chefe falou, pois acabei de descobrir que essa mulher não passa  apenas disso, né? Minha chefe!!!

 

Respiro fundo fecho os olhos, abro lentamente olhando para o Augusto que com um olhar me pede paciência, mas como um bicho de espirito solto que sou, apenas devolvo o mesmo tom.

 

 

— É sério isso? — Clara perguntou, com uma frustação amarga na voz.

 

 

— É só um procedimento, Clara. Você foi ríspida e me atendeu de forma desrespeitosa. Imagina se fosse um cliente?

 

Ao ouvir aquilo meu sangue ferveu. A mulher me tratou com desrespeito desde do momento que cheguei, ofereci ajuda diversas vezes e essa mocreia diz que "minha conduta" foi desrespeitosa com ela? Agir com um certo deboche, confesso, mas trata-la mal, jamais. 

 

—  Bom, Ve..Verônica, certo? —  Pergunto seu nome com uma falsa duvida. - Irei assinar sua advertência com o maior prazer.

 

— Não é pessoal — Verônica respondeu, virando-se de volta aos demais funcionários. — Tenho que manter o padrão de penalidade com todos de maneira semelhante.

 

Sigo em direção ao meu caixa, pego a mochila que havia chegado e guardado ao lado da minha cadeira na hora que abrir o caixa, a ponho em um dos meus braços, e ao ver oque estava fazendo, Augusto me olha e pergunta.

 

 —  Oque você está fazendo? —  Ele me olha meio desesperado, olho para ele e digo.  —  Indo assinar a minha advertência, não foi isso que recebi agora?

 

A tal da Verônica olha para mim como se eu tivesse fazendo a cena de uma  novela mexicana, e isso me irrita a ponto de soltar de uma vez só.

 

Cruzo os braços, ofendida de um jeito que doía fundo, não pela advertência , pois se realmente tivesse chegado atrasada daquela maneira aceitaria assinar aquele maldito papel sem relutância, mas poxa, estava ali vestindo a camisa da empresa mais do que qualquer um ali. Olho para aquela mulher com zero paciência e solto.

 

— Engraçado. Quando eu varri o chão duas horas depois do meu turno, não ouvir ninguém me advertir por isso. — comecei a citar alguns episódios abusivos na cara dura, sem medo de transformar essa advertência em uma demissão. 

 

—  Quando fiquei até meia-noite organizando o estoque no mês passado, também não.

 

Nessa hora, minha indignação começa tomar voz, e minha fala vai saindo cada vez mais firme e sem freio.

 

 — Ou quando mais uma semana abro mão da minha folga, como hoje — Nesse momento tenho a atenção total dela. — quando funcionários faltam e tenho que vim de ultima hora andando  quadras e mais quadras para vir cobrir não só o caixa, mas estoquistas e até mesmo a área da limpeza.

 

Nessa hora sinto que sua expressão de alguns minutos atrás sumiu, e um silencio constrangedor me deu gás para denunciar alguns abuso daquela gestão. E nesse momento vejo a irá do Augusto sobre mim, mas sinto que já está na hora de dar um basta nisso. Estou soltando a corda sobre esse emprego. Não vejo mais o intuito de crescimento com uma gestão tão injusta e imoral assim. Penso comigo mesma.

 

 — Estou cansada demais para discutir sobre o certo ou errado.  — Digo de maneira cansada.

 

 — Ainda mais em uma semana onde venho trabalhando dezesseis horas por dia, sem nem ao menos ver a cara do meu gato direito de tão cansada que chego em casa.

 

Vejo Verônica apertar os lábios, como se quisesse dizer algo, mas não conseguia encontrar uma palavra quaisquer. E então dei um passo à frente.

 

— Eu não tô aqui por salário, Verônica. Não sei se você sabe disso. Eu visto essa camisa como se fosse minha, assim como muitos hoje aqui presente. — Vejo a incredulidade de alguns ao me ver falar de maneira tão unilateral. 

 

—  E, se o seu irmão ou o seu agora gerente, não é mesmo? —  Digo me referindo ao Igor e ao Augusto. —  não consegue ver isso... se vocês preferem se esconder atrás de um protocolo para nos manter na linha como funcionários  comuns... 

 

 Respiro fundo, sentindo o gosto amargo da falta de valorização sobre alguns funcionários, inclusive a mim. —  Então talvez estejamos no lugar errado.

 

Arrumo as duas alças da mochila em minhas costas e me viro em direção a porta, nem ao menos olho para trás, mas digo em alto e bom som para meu gerente ouvir.

 

—  Amanhã eu assino o papel da advertência, tudo bem Augusto? —  Não espero uma resposta, apenas agacho para passar pelo portão já que ele estava meio fechado por conta de reunião, e vou embora.

Próxima página - O acaso a meu favor

O acaso a meu favor - Página 05

 

Pagina 05 – Capitulo 01.

 

Ao ir caminhando para o meu caixa, a moça que estava andando pelos corredores entra na minha frente me parando a alguns metros do caixa e diz.

 

- Você que é a mocinha atrasada para o serviço? - Estava meio atordoada então não percebi o tom de desdém daquela mulher.

 

- Sim, houve um imprevisto, mas estou aqui. - Digo tentando soar o mais suave possível.- Você precisa de ajuda com alguma coisa?

 

Ao ouvir oque falei, ela começou a da uma mini risada sem humor e solta um "Ainda de faz de sonsa".

 

Ao ouvir aquilo, não entendi exatamente o porque da fala, porém analiso aquela mulher de cima a baixo, e penso comigo mesma: - "Se oque fosse de linda, tivesse de educação, até a trataria bem".

 

Sei que cheguei bem mais que trinta minutos, mas poxa, estou aqui cobrindo uma pessoa em minha folga, aonde deveria estar em minha casa descansando, e vim ouvir de uma dona muito bonita por sinal, mas muito mal educada por sinal um, "Ainda se faz de sonsa", é demais!!!

 

   - Moça, primeiramente Bom dia! - Digo de maneira já como quem está com pavio curto. - Espero que esteja bem, mas preciso abrir o caixa para lhe atender melhor, tudo bem?

 

Com o tom mais debochado que aprendi nesse mercado com o pessoal, usei com aquela mulher. Ao ouvir a maneira que usei as palavras, sentir que se ela pudesse pegar no meu pescoço e apertar até sessar sua raiva, ela faria isso.

 

Dando a volta ao caixa, me agacho para ligar o computador, e em si já começo a tirar o lixo que mais uma vez não tiraram no turno da noite. Ao ver que a mulher se posicionou em frente ao meu caixa com uma mão na cintura e a outra solta me encarando como se precisasse de alguma explicação a questiono novamente.

   

    - Moça, mais uma vez...- Já começo a dizer de forma impaciente. - Você precisa de alguma coisa?

 

Começo a fazer um mantra mental para aquela mulher colaborar comigo enquanto vou direcionando o mouse para o aplicativo que abre o sistema para iniciar o caixa, ao perceber que ela não falaria nada, a encarei com quem diz: - "E aí minha filha, adianta! tenho o tempo todo não."

 

Ela arruma sua postura, e olha em meu olhos e quando ela menciona em falar alguma coisa, a peço licença e chamo o novato:

 

     - Meu querido...- Tento me lembrar do nome dele, mas foge da cabeça.

 

     - Vou te pedir um favor, tá bom? - Ele arregala os olhos para mim, e assente com um balançar de cabeça meio ansioso.

 

   - Preciso que você vá lá no fundo e peguei uma vassoura e uma pá...- Ele vai assentindo a medida que vou falando. - E limpe aqui na frente pra mim, tá bom?

 

Ele some do meu campo de visão em questão de segundos, me viro para a caixa de controle que abre o portão por completo do mercado, e aquela moça de maneira mais séria continua me encarando como se quisesse minha cabeça em uma bandeja.

 

Ao me olhar incrédula, ela apenas me faz uma pergunta como se quisesse uma confirmação óbvia.

 

      

     - Garota...- Ela da um suspiro pesado e pergunta. - Você não sabe mesmo com quem está falando?

 

E com um olhar mais perdido que pude lhe oferecer disse.

 

     - Não moça, não lhe conheço...- Entrando no caixa e puxando minha cadeira para sentar. - Mas me diga, que celebridade a senhorita é?

 

Vejo ela abrir a boca em sinal de indignação com a minha fala, e percebo que estou começando a me divertir com essa dona.

 

     - Vem cá garota...- Bate suavemente uma das mãos no caixa. - É assim que vocês tratam os clientes por aqui?

 

De maneira divertida a respondo esperando mais alguma reação explosiva sua.

 

        - Não, apenas pessoas mal educadas e antipáticas como vossa senhoria. - Digo revirando os olhos e saudando uma cliente que entra no mercado. - E vai por mim, sou a melhorzinha desse mercado. - Finalizo minha frase.

 

 

Por Verônica

 

Não acredito no aquela menina disse para mim na cara dura, será que ela não tem noção com quem está falando? acredito que não, acredito que não mesmo. Ao ver meu irmão vindo em minha direção com um rapaz com cerca de uns trinta anos, acredito ser eu que seja o gerente. Ao parar em minha frente me cumprimenta, acredito eu que o Igor tenha mencionado que eu estaria aqui, ou pelo menos era oque eu imaginava.

 

O rapaz parecendo estar um pouco alterado por sua expressão, imagino que o motivo seja a ausência dos seus funcionários, ao ver o Igor finalizar alguma coisa que ele estava fazendo em seu celular ele olha para mim, a mocinha respondona e o gerente ao seu lado.

 

       - Augusto, Clara...acredito que eu nunca haviam apresentado vocês a minha irmã. - Nessa hora vi a cara de pânico daquela pirralha. - Essa é Verônica, minha irmã mais velha.

 

Nessa hora de maneira lenta girei em sua direção, e ao ver a cara de pânico e confusão daquela garota foi impagável. O rapaz ao lado do meu irmão também estava com uma expressão confusa, mas envergonhada pela situação. Ao ver ambos, gerente e caixa se olharem como se tivessem conversando em código, vejo a expressão de preocupação no olhar dos dois.

 

- Ah sim, eu a ...- Finjo não ter esquecido o nome citado pelo meu irmão.

 

- Cla...Clara, dona...Ve...Verônica. - Ao gaguejar percebo seu desespero ao ser apresentada a ela como "Dona", que é oque sou desse mercado junto ao meu irmão.

 

-  Clara, acredito que temos muito que conversar sobre seu atendimento...- Digo de maneira dura. - Não é mesmo?

 

Vejo seu gerente olhar de maneira dura para a funcionaria do caixa a minha frente, ela com uma expressão arrependida, apenas encolhe os ombros e assente com um sinal de positivo. Não perco meu tempo, chamo o rapaz que estava limpando a área da frente do mercado, peço a senhorita a minha frente para abaixar a porta pela metade e ao ter a atenção de todos ali presente digo:

 

    - Bom, agora que sabem que sou a irmã do Igor, preciso que saibam de algo. - Tenho a atenção completa de todos ali presente. - Não vim aqui a passeio. Vim para junto com meu irmão poder gerenciar o mercado "Empório da Economia".

 

   - E já digo logo...- Vejo ter a atenção de todos. - Haverá mudanças severas a partir de hoje.

 

Vejo meu irmão me olhar de forma atenta, sem me interromper em nenhum momento. Vejo a cara do gerente suavizar um pouco, percebo que depois de mais de duas horas o restante do funcionários chegaram e digo em alto bom som.

 

       - E Todos aqueles que chegaram atrasados...- Com um olhar severo encaro o gerente presente no momento. - Advertência por escrito para cada um.

 

Olho ao redor encarando os funcionários, e meu olhar decai em uma certa mocinha.

 

- Incluso você. - Ela me olha com um ar de confusão misturado com revolta. 


Próxima página - O acaso a meu favor

Página 06

O acaso a meu favor - Página 74

  Continuação — O beijo… por Verônica O “quase” entre nossas bocas dura longos segundos — segundos que esticam o mundo, que dilatam o ar ao...