Pagina 03 – Capitulo
01.
Fui recebida com muito carinho
pelo meu irmão e sua noiva, Lia. Um abraço apertado foi necessário para
entender o que meu irmão estava sentindo naquele momento: medo, talvez, ou quem
sabe uma pitada de desespero. Mas, como uma boa irmã mais velha que sou,
transmiti a ele segurança e todo o apoio de que precisava.
Ao me despedir dos dois para,
enfim, descansar da viagem, tomei um banho quente. Ao sentir a água caindo
sobre minha pele, soltei um pequeno gemido de alívio — meu corpo, enfim,
recebia um pouco de conforto. Vesti algo leve, peguei o celular e enviei uma mensagem
para Ana, meu braço direito na empresa que tenho em San Diego:
— Boa noite, Ana. Cheguei bem
em Caldas. Qualquer problema ou dificuldade, não deixe de me mandar mensagem.
Me mantenha informada sobre tudo que acontecer na empresa.
Desliguei a tela do celular e fui
dormir. Um sentimento estranho me invadiu. A sensação de que alguém estava
faltando. Faltava um abraço específico, um olhar específico… uma pessoa em
especial. Enfim, me rendi ao sono — junto com tudo aquilo que eu estava
sentindo — tentando me preparar para o dia seguinte.
Ao acordar na manhã seguinte,
abri os olhos com um suspiro determinado, como de costume. Tomei um banho
gelado para despertar o corpo — e, principalmente, a mente. Ao sair do quarto,
passei pelo corredor que levava diretamente ao escritório do meu falecido pai.
Um sentimento de conforto invadiu meu coração e me deixou ainda mais
determinada a cumprir o que vim fazer aqui, em Caldas Novas.
Chegando à cozinha, senti o
cheiro de café fresco perfumando o ambiente. Logo, minha voz soou:
— Acredito que vou querer uma xícara de
café. — Disse com
um leve sorriso.
Meu irmão, ao me ver sentando à
mesa ao seu lado, abriu um grande sorriso — como se estivéssemos recriando uma
memória antiga.
— Bom dia, minha irmã. —
Disse ele, me cumprimentando com um beijo no rosto.
Vi Lia terminando de preparar o
café que perfumava toda a casa. Logo ela se juntou a nós à mesa e a
cumprimentei com um abraço apertado. Percebi sua felicidade ao me ver ali, e
ela disse:
— Verônica, você não sabe a
felicidade que é te ter de volta em casa.
Senti a sinceridade em suas
palavras. Eu e Lia sempre nos demos muito bem. Lembro de algumas mensagens em
que ela me contava o quanto Igor estava desesperado e preocupado com a situação
do mercado.
Eles estão juntos há cerca de
três anos. No ano passado, durante o aniversário de Lia, Igor a pediu em
casamento — e a felicidade se espalhou por ambas as famílias. Fiquei emocionada
ao saber que meu irmão encontrou a pessoa certa para fazer um pedido tão
importante.
Entre risadas e brincadeiras, eu
e meu irmão seguimos em seu carro, rumo ao mercado fundado por nosso pai.
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Por Mercado...
Ao parar o carro em frente ao
mercado, uma avalanche de sentimentos — que até então eu tentava ignorar — veio
como um soco no estômago. Permiti que algumas lágrimas escorressem, mas logo
tratei de limpá-las. Como apoio, recebi um aperto reconfortante no ombro do meu
irmão.
Esperamos o gerente abrir o
mercado. Permanecemos em silêncio, pois meu irmão, que me conhece bem, sabe que
para corrigir cada erro que levou nosso comércio à beira da falência, duas
coisas são fundamentais: paciência e, principalmente, muita observação.
E, nesse curto tempo, já observei
duas falhas: o atraso na abertura do mercado e a quantidade de funcionários que
chegaram depois do horário. Esperamos cerca de vinte minutos até que, enfim,
abrimos as portas do carro e saímos — cada um de um lado. A primeira impressão
é a que fica, certo? Pois essa... ficou.
— Igor... — o chamei de
forma a captar sua atenção. — Tem alguém responsável pela limpeza externa
do mercado?
Antes de me responder, ele
observou ao redor: calçadas, paredes, entradas. Então, virou-se para mim e
respondeu, um pouco constrangido:
— Iremos cuidar disso. —
disse, visivelmente envergonhado ao perceber a situação em termos de “primeira
impressão”.
Percebi também que as paredes
estavam bem desgastadas pela pintura antiga. Os banners que anunciam o que
oferecemos estavam tão desbotados quanto, dificultando a leitura e a
visualização do conteúdo. Nota mental: isso precisa ser resolvido com
urgência.
Ao entrar no mercado, senti a
ausência de uma figura crucial para o funcionamento do local: a caixa.
Igor, percebendo a mesma
ausência, seguiu para dentro do mercado à procura da funcionária responsável
pela função. Já haviam se passado trinta minutos do horário de abertura e todos
os computadores e luzes do local ainda estavam desligados.
Aproveitei sua ausência e comecei
a caminhar pelos corredores do mercado. Logo percebi a falta de organização e a
negligência do funcionário responsável por algumas seções. Em contrapartida,
outros corredores estavam impecáveis — um claro reflexo do comprometimento e eficiência
de quem cuida deles. Outra nota mental: preciso conhecer cada
funcionário. Especialmente os que fazem bem o seu trabalho.
Caminhando mais um pouco,
encontrei caixas abertas e espalhadas nos corredores, como se alguém estivesse
repondo os produtos, mas não tivesse conseguido finalizar — ou, pior,
simplesmente tivesse deixado para terminar no dia seguinte.
Aproveitei o passeio para
observar a estrutura do ambiente e percebi que, para arrecadar
dinheiro, primeiro será preciso investir. O lugar precisa,
no mínimo, parecer confortável para quem entra. Algumas lâmpadas estavam
queimadas, prateleiras empenadas, e até os ventiladores precisavam de
manutenção.
Antes de pensarmos em reerguer
este lugar, será preciso uma boa reforma. E, para isso, preciso saber
exatamente quanto temos em caixa, e se ainda existe algum valor disponível
para realizar essa manutenção geral no mercado.
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