sexta-feira, 28 de novembro de 2025

O acaso a meu favor - Página 74

 Continuação — O beijo… por Verônica

O “quase” entre nossas bocas dura longos segundos — segundos que esticam o mundo, que dilatam o ar ao nosso redor, que fazem meu peito doer de tanta vontade contida.

Clara respira bem perto, tão perto que sinto o calor do seu exalar tocar minha boca antes que ela toque de fato. E esse simples detalhe… esse pequeno roçar de ar quente… já desmonta toda a minha postura.

Minha mão aperta a cintura dela, puxando-a milímetros a mais.
Ela reage arqueando o corpo contra o meu — suave, involuntário, urgente.

E então, muito devagar, encosto minha boca na dela.

Não é um beijo imediato.
É primeiro um toque leve, quase um teste.
Um deslizar de lábios sobre lábios, tão sutil que mais parece um suspiro partilhado do que um toque real.

Mas Clara…
Clara responde como se estivesse esperando exatamente aquilo.

A respiração dela falha, e ela tenta seguir minha boca — mas eu não deixo. Ainda não. Me afasto só um fio de distância, o suficiente para sentir o corpo dela reclamar desse vazio.

Ela solta um som baixo, quase um gemido contido, e segura meu rosto com as duas mãos, como se tivesse medo que eu fugisse.

— Verônica… — ela repete, só que agora é mais grave, mais carregado de tudo o que ela segurou até aqui.

Essa forma de dizer meu nome me quebra.
Meu controle vai embora.

Volto a encostar minha boca na dela, dessa vez com mais certeza, mais fome.
Ainda devagar — mas não mais tímido.

Os lábios dela são quentes, macios, e ela me beija como alguém que precisava disso para respirar. A mão dela sobe pela minha nuca, os dedos entrelaçando-se no meu cabelo, puxando leve, guiando. Sinto uma onda quente subir pela minha coluna inteira.

Minhas duas mãos sobem lentamente pela lateral do seu corpo, os dedos explorando cada centímetro, sentindo o arrepio acender sob minha pele.
Cada toque parece acender outro nela.
E cada arrepio dela acende algo em mim.

O beijo aprofunda um pouco quando ela abre a boca devagar, como um convite silencioso — e eu o aceito. Nossas respirações se misturam num ritmo confuso, urgente e suave ao mesmo tempo, como se estivéssemos descobrindo o outro pela primeira vez.

Sinto o coração dela bater rápido contra meu peito.
Sinto a mão dela tremer um pouco na minha nuca.
Sinto que ela está entregue — não só ao beijo, mas ao que ele significa.

Eu afasto a boca só um segundo, apenas para respirar ao lado da dela.
Minhas palavras saem baixas, arranhando o silêncio:

— Eu queria isso há tanto tempo…

Clara encosta a testa na minha, a respiração quente batendo nos meus lábios.

— Então não para — ela sussurra, com um sorriso que me destrói e me reconstrói na mesma hora.

E quando a beijo novamente, com mais profundidade e mais calma — é como se o mundo tivesse sido feito só para aquele momento.
Só para nós duas.
Só para esse beijo que finalmente aconteceu… e que promete tudo o que vem depois.


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O acaso a meu favor - Página 73

Por Verônica… (continuação)

Ao ver aquele sinal — os olhos dela descendo para minha boca, a respiração presa — sinto meu corpo inteiro responder antes mesmo da minha razão. Aos poucos, deslizo minhas mãos pela lateral dos braços dela. E não só percebo… eu sinto.

O arrepio.
O tremor.
A entrega.

Quando olho para o rosto dela, encontro seus olhos fechados e um sorriso que, honestamente, me desmonta. Um sorriso de quem desejou esse momento tanto quanto eu — talvez até mais.
É o sorriso de quem finalmente chegou em casa.

Aproximo o rosto devagar e encosto na curva do pescoço dela. O toque é leve… mas o impacto é devastador. Naquele exato instante, sou arrancada do mundo como eu conhecia e jogada em outro, onde só existe ela.
E me pergunto:
Como vivi tanto tempo sem isso?

Quando “acordo” desse transe, percebo os braços dela ao redor dos meus ombros, me puxando para ainda mais perto. E aí eu entendo: ela está me deixando acessar tudo.
O pescoço.
A pele macia.
O cheiro quente que parece feito para me enlouquecer.

Por instinto — e por necessidade — a puxo com delicadeza, arrastando-a até que nossas costas encontrem a lataria do carro. Ela ri, uma risada solta, linda, encantadora.
E eu penso, com uma pontada quase dolorosa:
Pobre de quem nunca viu essa versão dela.

— Então… — começo, ainda com o rosto escondido no pescoço dela, quando a ouço perguntar, atrevida:

— O que achou do meu cheiro?

Se ela soubesse o estrago que essa pergunta faz…

Estou tão embriagada pelo perfume dela, tão tomada por tudo o que é Clara, que só consigo responder:

— Perfeito…

A palavra sai quase como um gemido, antes que minha boca substitua o cheiro por beijos. Beijos lentos, quentes, marcados pela vontade que eu passei tempo demais fingindo que não tinha.

Ela solta um suspiro abafado.
E esse som… Deus, esse som…

É como ganhar na loteria.
Como acender um fósforo dentro de um barril de pólvora.

Um sorriso surge nos meus lábios enquanto continuo beijando sua pele, e sinto algo novo, antigo, profundo despertar dentro de mim — um instinto que eu sempre mantive preso, mas que agora explode inteiro:

Eu a quero.
E dessa vez… eu não estou sozinha nisso.

...........................

Quando sinto o suspiro preso na garganta dela, algo dentro de mim simplesmente destrava. Como se aquele som fosse a chave de um cofre que eu nem sabia que existia. Minha boca ainda está encostada no seu pescoço quando percebo seus dedos apertando meus ombros, puxando-me um pouco mais, como se tivesse medo que eu fosse embora.

E eu não vou.
Não agora.
Não depois disso.

Minha mão sobe pelas costas dela, lenta, explorando, decorando cada curva por puro instinto. Sinto sua respiração falhar, sinto o corpo dela colar no meu, e pela primeira vez na noite inteira, é ela quem perde o controle.

— Verônica… — ela sussurra, e o jeito que meu nome soa na boca dela quase me faz fechar os olhos. É suave, preciso… um pedido e uma confissão ao mesmo tempo.

Eu rio baixinho contra sua pele, porque aquela resposta… aquele arrepio… aquela entrega… é tudo que eu queria desde que a vi pela primeira vez hoje.

Levo meu rosto para perto do dela, ainda sem beijá-la, apenas deixando nossas bocas dividirem o mesmo ar.

Quase encosto, quase toco — e não toco.
Quero que ela sinta. Quero que ela deseje. Quero que ela peça.

— Você não tem ideia do que faz comigo — digo, num murmúrio rouco, quase um segredo.

Clara abre os olhos devagar, como se estivesse tentando voltar de algum lugar onde só eu a levei. O sorriso dela agora é outro — não é mais doce, nem tímido. É um sorriso perigoso. Um sorriso que entende o poder que tem.

— Então mostra — ela provoca, num tom baixo, firme, que me faz prender o ar.

E é aí que meu corpo inteiro responde antes mesmo de eu pensar.
Minha mão vai à sua cintura, puxando-a para mim com uma precisão que revela o que eu escondi por tanto tempo.
Ela solta outro suspiro, ainda mais quente, e encosta a testa na minha.

O mundo parece inclinar um pouco.

— Cuidado com o que você pede — aviso, com um sorriso torto, sentindo a adrenalina correr solta. — Eu costumo entregar.

Os olhos dela brilham, e eu sei que perdi.
Ou ganhei.
Depende do ponto de vista.

E quando nossas bocas finalmente se tocam — não é um beijo inteiro. É quase. Só o suficiente para prometer algo maior.

Mas o “quase” é tão elétrico, tão absurdo, que meu corpo inteiro treme por dentro, e eu sei que depois disso… nada entre nós voltará a ser normal.


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O acaso a meu favor - Página 72

Por Verônica…

Continuo dirigindo sem rumo, só ouvindo o som baixo do motor e a respiração tranquila dela ao meu lado. É estranho… Clara parece cada vez mais confortável perto de mim, como se o carro fosse um lugar seguro. Como se eu fosse. E isso me dá uma coragem que não sei controlar, um impulso que me puxa para mais perto dela do que eu deveria.

Até que me lembro de um lugar.

Um terreno afastado da cidade, no alto de uma estrada de terra. De lá, dá pra ver todas as luzes espalhadas, como se a cidade tivesse se deitado para dormir, mas decidido continuar brilhando só pra nós duas. Já levei algumas pessoas ali… mas nunca por esse motivo. Nunca com esse peso no peito.

Pego a estrada estreita e esburacada. Clara ergue as sobrancelhas.

— Onde você tá me levando, Verônica? — ela pergunta, com um riso nervoso que denuncia tudo.

Não a encaro de imediato — se ela me olha agora, percebe que estou tremendo. Que estou suando frio. Então estendo uma das mãos até sua perna e aperto de leve, tentando passar confiança quando na verdade estou à beira de perder o controle.

— Clara…

Estaciono o carro no ponto mais alto. A cidade se acende lá embaixo, respirando luz. Desligo o motor. O silêncio é tão intenso que parece nos envolver, empurrar nossos corpos um pouco mais próximos do que deveriam estar.

Clara olha pela janela, encantada.

— Nossa… é lindo.

Ao descermos do carro, ela admira o lugar como se estivesse vendo um segredo. E eu a observo. E percebo, sem espaço para dúvidas, que já me senti atraída por mulheres de todos os tipos — idades, estilos, temperamentos… tudo que faz uma mulher ser mulher.
Mas ela… essa menina me desmonta inteira com um sorriso.
Como esse agora, iluminado pela cidade lá embaixo.

Ela desvia o olhar, mordendo a boca para não sorrir demais. Esse gesto simples me rasga por dentro. Como se abrisse um espaço novo em mim, que só ela consegue tocar.

O ar frio passa entre nós, e Clara se aproxima sem perceber. É instintivo. Ou talvez… talvez seja eu.

Fico ao lado dela, observando a cidade, mas consciente demais do corpo dela a poucos centímetros do meu.

Ela abraça o próprio corpo e, ainda olhando as luzes, pergunta:

— Vê…

Segunda vez na noite que ela me chama assim. E, Deus… como esse apelido soa bonito vindo da boca dela.

— O que exatamente estamos fazendo aqui? — ela me olha com aquela confusão tão dela, aquele misto de inocência e intensidade que me faz perder o ar.

A pergunta dela faz a ansiedade que eu achei ter deixado no carro voltar com força. Ela me olha como se estivesse tentando me decifrar, e isso me desmonta.
Será que ela realmente não percebe?
Será que estou sozinha nisso?

Ela se coloca na minha frente — mais baixa, mais próxima — e eu encaro aqueles olhos castanhos que parecem querer me puxar inteira para dentro deles.

Sem pensar, uma das minhas mãos vai até seu rosto. Puxo uma mecha de cabelo para trás da orelha, mas minha mão não volta. Ela repousa no pescoço dela, quente, frágil, tão perto da pulsação acelerada.

E é aí que eu vejo.
Eu vejo.

Os olhos dela vacilam.
Depois descem.
Direto para a minha boca.

Meu coração dispara tão forte que sinto no meu próprio pescoço, no meu pulso, em todo lugar.

Nesse instante, eu entendo:

Ou eu falo agora o que sinto…

Ou finalmente cedo ao desejo que estou segurando desde o primeiro dia — e afogo tudo na boca dessa menina.

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O acaso a meu favor - Página 74

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