Por Verônica… (continuação)
Ao ver aquele sinal — os olhos dela descendo para minha boca, a respiração presa — sinto meu corpo inteiro responder antes mesmo da minha razão. Aos poucos, deslizo minhas mãos pela lateral dos braços dela. E não só percebo… eu sinto.
O arrepio.
O tremor.
A entrega.
Quando olho para o rosto dela, encontro seus olhos fechados e um sorriso que, honestamente, me desmonta. Um sorriso de quem desejou esse momento tanto quanto eu — talvez até mais.
É o sorriso de quem finalmente chegou em casa.
Aproximo o rosto devagar e encosto na curva do pescoço dela. O toque é leve… mas o impacto é devastador. Naquele exato instante, sou arrancada do mundo como eu conhecia e jogada em outro, onde só existe ela.
E me pergunto:
Como vivi tanto tempo sem isso?
Quando “acordo” desse transe, percebo os braços dela ao redor dos meus ombros, me puxando para ainda mais perto. E aí eu entendo: ela está me deixando acessar tudo.
O pescoço.
A pele macia.
O cheiro quente que parece feito para me enlouquecer.
Por instinto — e por necessidade — a puxo com delicadeza, arrastando-a até que nossas costas encontrem a lataria do carro. Ela ri, uma risada solta, linda, encantadora.
E eu penso, com uma pontada quase dolorosa:
Pobre de quem nunca viu essa versão dela.
— Então… — começo, ainda com o rosto escondido no pescoço dela, quando a ouço perguntar, atrevida:
— O que achou do meu cheiro?
Se ela soubesse o estrago que essa pergunta faz…
Estou tão embriagada pelo perfume dela, tão tomada por tudo o que é Clara, que só consigo responder:
— Perfeito…
A palavra sai quase como um gemido, antes que minha boca substitua o cheiro por beijos. Beijos lentos, quentes, marcados pela vontade que eu passei tempo demais fingindo que não tinha.
Ela solta um suspiro abafado.
E esse som… Deus, esse som…
É como ganhar na loteria.
Como acender um fósforo dentro de um barril de pólvora.
Um sorriso surge nos meus lábios enquanto continuo beijando sua pele, e sinto algo novo, antigo, profundo despertar dentro de mim — um instinto que eu sempre mantive preso, mas que agora explode inteiro:
Eu a quero.
E dessa vez… eu não estou sozinha nisso.
...........................
Quando sinto o suspiro preso na garganta dela, algo dentro de mim simplesmente destrava. Como se aquele som fosse a chave de um cofre que eu nem sabia que existia. Minha boca ainda está encostada no seu pescoço quando percebo seus dedos apertando meus ombros, puxando-me um pouco mais, como se tivesse medo que eu fosse embora.
E eu não vou.
Não agora.
Não depois disso.
Minha mão sobe pelas costas dela, lenta, explorando, decorando cada curva por puro instinto. Sinto sua respiração falhar, sinto o corpo dela colar no meu, e pela primeira vez na noite inteira, é ela quem perde o controle.
— Verônica… — ela sussurra, e o jeito que meu nome soa na boca dela quase me faz fechar os olhos. É suave, preciso… um pedido e uma confissão ao mesmo tempo.
Eu rio baixinho contra sua pele, porque aquela resposta… aquele arrepio… aquela entrega… é tudo que eu queria desde que a vi pela primeira vez hoje.
Levo meu rosto para perto do dela, ainda sem beijá-la, apenas deixando nossas bocas dividirem o mesmo ar.
Quase encosto, quase toco — e não toco.
Quero que ela sinta. Quero que ela deseje. Quero que ela peça.
— Você não tem ideia do que faz comigo — digo, num murmúrio rouco, quase um segredo.
Clara abre os olhos devagar, como se estivesse tentando voltar de algum lugar onde só eu a levei. O sorriso dela agora é outro — não é mais doce, nem tímido. É um sorriso perigoso. Um sorriso que entende o poder que tem.
— Então mostra — ela provoca, num tom baixo, firme, que me faz prender o ar.
E é aí que meu corpo inteiro responde antes mesmo de eu pensar.
Minha mão vai à sua cintura, puxando-a para mim com uma precisão que revela o que eu escondi por tanto tempo.
Ela solta outro suspiro, ainda mais quente, e encosta a testa na minha.
O mundo parece inclinar um pouco.
— Cuidado com o que você pede — aviso, com um sorriso torto, sentindo a adrenalina correr solta. — Eu costumo entregar.
Os olhos dela brilham, e eu sei que perdi.
Ou ganhei.
Depende do ponto de vista.
E quando nossas bocas finalmente se tocam — não é um beijo inteiro. É quase. Só o suficiente para prometer algo maior.
Mas o “quase” é tão elétrico, tão absurdo, que meu corpo inteiro treme por dentro, e eu sei que depois disso… nada entre nós voltará a ser normal.
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