Inicio

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

O acaso a meu favor - Página 72

Por Verônica…

Continuo dirigindo sem rumo, só ouvindo o som baixo do motor e a respiração tranquila dela ao meu lado. É estranho… Clara parece cada vez mais confortável perto de mim, como se o carro fosse um lugar seguro. Como se eu fosse. E isso me dá uma coragem que não sei controlar, um impulso que me puxa para mais perto dela do que eu deveria.

Até que me lembro de um lugar.

Um terreno afastado da cidade, no alto de uma estrada de terra. De lá, dá pra ver todas as luzes espalhadas, como se a cidade tivesse se deitado para dormir, mas decidido continuar brilhando só pra nós duas. Já levei algumas pessoas ali… mas nunca por esse motivo. Nunca com esse peso no peito.

Pego a estrada estreita e esburacada. Clara ergue as sobrancelhas.

— Onde você tá me levando, Verônica? — ela pergunta, com um riso nervoso que denuncia tudo.

Não a encaro de imediato — se ela me olha agora, percebe que estou tremendo. Que estou suando frio. Então estendo uma das mãos até sua perna e aperto de leve, tentando passar confiança quando na verdade estou à beira de perder o controle.

— Clara…

Estaciono o carro no ponto mais alto. A cidade se acende lá embaixo, respirando luz. Desligo o motor. O silêncio é tão intenso que parece nos envolver, empurrar nossos corpos um pouco mais próximos do que deveriam estar.

Clara olha pela janela, encantada.

— Nossa… é lindo.

Ao descermos do carro, ela admira o lugar como se estivesse vendo um segredo. E eu a observo. E percebo, sem espaço para dúvidas, que já me senti atraída por mulheres de todos os tipos — idades, estilos, temperamentos… tudo que faz uma mulher ser mulher.
Mas ela… essa menina me desmonta inteira com um sorriso.
Como esse agora, iluminado pela cidade lá embaixo.

Ela desvia o olhar, mordendo a boca para não sorrir demais. Esse gesto simples me rasga por dentro. Como se abrisse um espaço novo em mim, que só ela consegue tocar.

O ar frio passa entre nós, e Clara se aproxima sem perceber. É instintivo. Ou talvez… talvez seja eu.

Fico ao lado dela, observando a cidade, mas consciente demais do corpo dela a poucos centímetros do meu.

Ela abraça o próprio corpo e, ainda olhando as luzes, pergunta:

— Vê…

Segunda vez na noite que ela me chama assim. E, Deus… como esse apelido soa bonito vindo da boca dela.

— O que exatamente estamos fazendo aqui? — ela me olha com aquela confusão tão dela, aquele misto de inocência e intensidade que me faz perder o ar.

A pergunta dela faz a ansiedade que eu achei ter deixado no carro voltar com força. Ela me olha como se estivesse tentando me decifrar, e isso me desmonta.
Será que ela realmente não percebe?
Será que estou sozinha nisso?

Ela se coloca na minha frente — mais baixa, mais próxima — e eu encaro aqueles olhos castanhos que parecem querer me puxar inteira para dentro deles.

Sem pensar, uma das minhas mãos vai até seu rosto. Puxo uma mecha de cabelo para trás da orelha, mas minha mão não volta. Ela repousa no pescoço dela, quente, frágil, tão perto da pulsação acelerada.

E é aí que eu vejo.
Eu vejo.

Os olhos dela vacilam.
Depois descem.
Direto para a minha boca.

Meu coração dispara tão forte que sinto no meu próprio pescoço, no meu pulso, em todo lugar.

Nesse instante, eu entendo:

Ou eu falo agora o que sinto…

Ou finalmente cedo ao desejo que estou segurando desde o primeiro dia — e afogo tudo na boca dessa menina.

Próxima página - O acaso a meu favor ... Página 73

Nenhum comentário:

Postar um comentário