quarta-feira, 25 de junho de 2025

O acaso a meu favor - Página 01

 


Pagina 01 – Capitulo 01.

Por Verônica....

E aqui estou, praticamente do outro lado do país onde nasci, com um casaco nas mãos e uma mala, embarcando para o Brasil. Mesmo sentada de forma serena no banco do aeroporto, esperando meu voo ser anunciado, por dentro estou transbordando uma onda de frustração. Até agora, não consigo acreditar que aceitei deixar minha empresa para assumir, temporariamente, a empresa do meu irmão caçula, Igor.

Com muita relutância, aceitei seu pedido de ajuda com a empresa, que até então havia sido deixada para nós dois como herança do nosso pai, Heitor. Porém, deixei a liderança e a administração nas mãos do meu irmão mais novo — o que resultou naquilo que eu jamais imaginaria em uma gestão dele: uma possível falência.

Ao respirar fundo, ouço meu voo ser anunciado. Ao chegar ao meu assento, me acomodo e me preparo para aproximadamente 14 horas de voo até a cidade de Caldas Novas, em Goiás.

Sentada na poltrona do avião, ao fechar os olhos para tentar dormir, relembro a ligação que está me fazendo abrir um espaço no meu tempo — um espaço que não era para existir.

            — Preciso da sua ajuda, Verônica. — diz ele, com um tom desesperado. — Você é a única pessoa em quem vejo capacidade para me ajudar a reerguer essa empresa.

Foi com esse pedido que agora estou desembarcando no aeroporto de Goiânia. Ao me aproximar da saída, vejo um rosto conhecido — um rosto que, ao sair de Caldas, há seis anos, achei que não veria por um longo tempo.

Ao ver o braço direito do meu falecido pai me esperando ao lado de uma caminhonete branca, sinto um conforto inesperado, como se estivesse voltando para casa. Com um aperto de mão cheio de carinho e saudade, o saúdo com alegria.

            — Boa noite, Sr. Antônio. — digo com certo humor na voz. — Quanto tempo, não?

Ao me ver depois de tantos anos, desde que meu pai faleceu, ele não escondeu sua felicidade.

— Boa noite, Verônica. — disse ele, retribuindo o aperto com o carinho e o respeito que sempre teve por mim e pela minha família. — É muito bom ter você de volta em casa.

E realmente foi muito bom sentir essa sensação. Antônio está a serviço da nossa família há muitos anos, desde a sua mocidade. Começou como motorista de carga para o mercado do meu pai, levando e buscando mercadorias em cidades vizinhas, como Goiânia e Uberlândia.

Com o passar do tempo, a amizade e a confiança entre meu pai e ele se fortaleciam a cada ano, a ponto de meu pai lhe oferecer a gerência do mercado. Mas como a paixão de Antônio sempre foi a estrada e a administração das mercadorias do mercado, ele recusou a proposta.

Ainda assim, sempre nos garantiu sua ajuda e dedicação no que fosse preciso — e assim ele fez. Até os dias de hoje, sua lealdade e confiança continuam se estendendo a nós, filhos de Seu Heitor.

Ao entrar na caminhonete, quis saber um pouco mais, durante a viagem, sobre o que havia acontecido depois da minha saída do Brasil para San Diego. Ouvir as dificuldades do meu irmão em administrar o mercado — por conta de processos trabalhistas e acordos quebrados — me deu uma ideia do tamanho da bagunça que a empresa está enfrentando no momento.

Durante a viagem, descobri também que Antônio agora é pai de duas meninas lindas, chamadas Isabelle e Laura.

A viagem foi tranquila. Entre risos e preocupações, chegamos à entrada de Caldas Novas. Ao passar pela avenida, vejo o supermercado e a padaria do nosso concorrente, Valentino. Não muito longe dali, noto uma construção ao lado, com uma placa indicando ser uma farmácia. Bem informado como sempre, Antônio comenta que se trata de um novo empreendimento no qual Valentino vem investindo.

Me incomodou, não vou negar — mas, ao mesmo tempo, me impressionou. Ele é um grande concorrente. Um grande e inteligente concorrente.

Do outro lado da avenida, no sentido oposto ao mercado vizinho, vejo um grande terreno vazio, cercado apenas por arame farpado. Me atraiu... porém, seguimos viagem até a casa do meu irmão. Eu estava exausta.


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