Pagina 01 – Capitulo 01.
Por Verônica....
E aqui estou, praticamente do
outro lado do país onde nasci, com um casaco nas mãos e uma mala, embarcando
para o Brasil. Mesmo sentada de forma serena no banco do aeroporto, esperando
meu voo ser anunciado, por dentro estou transbordando uma onda de frustração.
Até agora, não consigo acreditar que aceitei deixar minha empresa para assumir,
temporariamente, a empresa do meu irmão caçula, Igor.
Com muita relutância, aceitei seu
pedido de ajuda com a empresa, que até então havia sido deixada para nós dois
como herança do nosso pai, Heitor. Porém, deixei a liderança e a administração
nas mãos do meu irmão mais novo — o que resultou naquilo que eu jamais
imaginaria em uma gestão dele: uma possível falência.
Ao respirar fundo, ouço meu voo
ser anunciado. Ao chegar ao meu assento, me acomodo e me preparo para
aproximadamente 14 horas de voo até a cidade de Caldas Novas, em Goiás.
Sentada na poltrona do avião, ao
fechar os olhos para tentar dormir, relembro a ligação que está me fazendo
abrir um espaço no meu tempo — um espaço que não era para existir.
— Preciso da sua ajuda, Verônica. —
diz ele, com um tom desesperado. — Você é a única pessoa em quem vejo
capacidade para me ajudar a reerguer essa empresa.
Foi com esse pedido que agora
estou desembarcando no aeroporto de Goiânia. Ao me aproximar da saída, vejo um
rosto conhecido — um rosto que, ao sair de Caldas, há seis anos, achei que não
veria por um longo tempo.
Ao ver o braço direito do meu
falecido pai me esperando ao lado de uma caminhonete branca, sinto um conforto
inesperado, como se estivesse voltando para casa. Com um aperto de mão cheio de
carinho e saudade, o saúdo com alegria.
— Boa noite, Sr. Antônio. — digo com certo
humor na voz. — Quanto tempo, não?
Ao me ver depois de tantos anos,
desde que meu pai faleceu, ele não escondeu sua felicidade.
— Boa noite, Verônica. — disse
ele, retribuindo o aperto com o carinho e o respeito que sempre teve por mim e
pela minha família. — É muito bom ter você de volta em casa.
E realmente foi muito bom sentir
essa sensação. Antônio está a serviço da nossa família há muitos anos, desde
a sua mocidade. Começou como motorista de carga para o mercado do meu pai,
levando e buscando mercadorias em cidades vizinhas, como Goiânia e Uberlândia.
Com o passar do tempo, a amizade
e a confiança entre meu pai e ele se fortaleciam a cada ano, a ponto de meu pai
lhe oferecer a gerência do mercado. Mas como a paixão de Antônio sempre foi a
estrada e a administração das mercadorias do mercado, ele recusou a proposta.
Ainda assim, sempre nos garantiu
sua ajuda e dedicação no que fosse preciso — e assim ele fez. Até os dias de
hoje, sua lealdade e confiança continuam se estendendo a nós, filhos de Seu
Heitor.
Ao entrar na caminhonete, quis
saber um pouco mais, durante a viagem, sobre o que havia acontecido depois da
minha saída do Brasil para San Diego. Ouvir as dificuldades do meu irmão em
administrar o mercado — por conta de processos trabalhistas e acordos quebrados
— me deu uma ideia do tamanho da bagunça que a empresa está enfrentando no
momento.
Durante a viagem, descobri também
que Antônio agora é pai de duas meninas lindas, chamadas Isabelle e Laura.
A viagem foi tranquila. Entre
risos e preocupações, chegamos à entrada de Caldas Novas. Ao passar pela
avenida, vejo o supermercado e a padaria do nosso concorrente, Valentino. Não
muito longe dali, noto uma construção ao lado, com uma placa indicando ser uma
farmácia. Bem informado como sempre, Antônio comenta que se trata de um novo
empreendimento no qual Valentino vem investindo.
Me incomodou, não vou negar —
mas, ao mesmo tempo, me impressionou. Ele é um grande concorrente. Um grande e
inteligente concorrente.
Do outro lado da avenida, no
sentido oposto ao mercado vizinho, vejo um grande terreno vazio, cercado apenas
por arame farpado. Me atraiu... porém, seguimos viagem até a casa do meu irmão.
Eu estava exausta.
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