Pagina 13 – Capitulo 02
Continuação da reunião - Por Verônica.
— Sobre os funcionários que têm filhos — meu olhar se dirige diretamente
a alguns deles —, precisamos ser transparentes: a partir de agora, os atestados
de acompanhamento médico serão aceitos apenas mediante comprovação adequada,
com data e horário identificáveis. Isso é para garantir a organização da escala
e evitar abusos.
Ouço algumas reclamações se espalharem pelo ambiente, especialmente
vindas daqueles cujos nomes mais aparecem nos relatórios de faltas sem
justificativa. A maioria alegava precisar levar os filhos ao hospital, mas em
nenhuma das vezes apresentaram atestados ou qualquer comprovação de
comparecimento. Difícil administrar uma equipe assim, onde o compromisso parece
ser opcional.
Após uma breve análise dos rostos à minha frente, firmei a postura e
deixei minha voz ganhar o peso necessário:
— Sei que erros foram cometidos. Não fui eu quem os cometeu, mas estou
aqui para corrigir todos, doa a quem doer. E para quem tiver provas suficientes
para me processar — ou acha que vai me intimidar com isso —, vou facilitar:
podemos fazer um acordo de saída. Vocês saem agora, com todos os direitos
pagos, e cada um segue seu rumo. Mas se decidirem ficar, quero comprometimento.
Só há espaço aqui para quem trabalha com seriedade. O resto, pode procurar
outro lugar.
Vejo alguns trocarem olhares, analisando a proposta, e já reconheço nos
rostos de alguns quem provavelmente aceitará a saída imediata. Sem perder
tempo, avanço para a próxima etapa — agora minha regra será voltada para a
estética e a profissionalização no atendimento ao público.
— Todos! — elevo a voz o suficiente para cortar qualquer murmúrio. — A
partir de hoje, exijo apresentação pessoal adequada: uniformes sempre limpos,
unhas cortadas e cabelos organizados. O uniforme completo inclui calça jeans —
de preferência, lavagem escura — e sapatos fechados, para evitar acidentes.
Estamos lidando com o público, e a imagem da empresa começa pela forma como
vocês se apresentam.
— A partir de hoje — declaro com firmeza, olhando nos olhos de cada um
—, exijo atenção total e responsabilidade sobre cada setor. Cada repositor será
designado como responsável direto por sua respectiva sessão.
— Se forem encontrados produtos vencidos, mal organizados ou com
divergência de preços, a diferença será descontada do salário do responsável.
Além disso, erros graves, como negligência no controle de validade ou exposição
incorreta, terão consequências sérias. Não estou aqui para punir ninguém sem
motivo, mas para garantir que o mínimo seja feito com excelência.
Depois de apresentar as regras superficiais para todos, deixo claro que
alguns benefícios ainda serão discutidos e oferecidos àqueles que decidirem
permanecer. Abro espaço para perguntas e esclarecimentos. Ao observar os rostos
ao meu redor, noto que Clara, assim como alguns outros funcionários, está
atenta — e seu olhar revela uma mistura de curiosidade e hesitação. Está claro
que há dúvidas, e muitas delas parecem prestes a vir à tona.
Clara ergue a mão com cautela, mas com firmeza suficiente para se
destacar entre os demais. Caminho visualmente até ela, acenando com a cabeça
para que fale.
— Verônica — começa, com um tom respeitoso, mas direto. — Em relação às
novas regras... O que acontecerá com as funções que antes eram acumuladas por
um único funcionário? Haverá redistribuição de tarefas? Porque, se for pra
manter a mesma sobrecarga com regras mais rígidas, não vai adiantar muito.
“Ah, então agora é só Verônica? No restaurante era ‘senhora’, quase
faltou me chamar de Vossa Excelência…” — penso, com um meio sorriso
discreto antes de responder.
Sinto o ambiente prender a respiração, mas não fujo da provocação. Clara
não me desrespeitou. Apenas falou o que muitos queriam dizer.
— Excelente pergunta — respondo, mantendo o tom firme. — Sim, haverá
redistribuição. E mais do que isso: quem permanecer, terá suas funções bem
definidas, com metas e reconhecimento proporcional ao esforço. Mas o que não
vai mais acontecer é exploração disfarçada de esforço coletivo.
Clara assente lentamente, mas ainda com a testa franzida. Pela primeira
vez, vejo nela não só uma funcionária crítica — mas uma possível liderança em
formação.
— Hoje reuni todos vocês porque preciso da colaboração geral para uma
força-tarefa importante — digo, firme, observando cada rosto atento. — Vamos
retirar todos os produtos vencidos, tanto das prateleiras quanto dos freezers e
da adega de vinhos. Também quero a limpeza completa dos itens e a reetiquetagem
dos preços. — Lanço um olhar rápido ao relógio; já estamos próximos do horário
de abertura. — Uma pessoa será designada para cada função específica, e os
demais irão auxiliar na retirada, higienização e reorganização dos produtos nas
gôndolas.
Com as portas abertas e tudo em funcionamento, observo alguns
funcionários colocando a mão na massa sem demora. Clara, pelo que percebo,
optou por ajudar diretamente nas seções, movimentando-se com atenção entre os
corredores. Me organizo rapidamente e ligo para um restaurante local,
solicitando a quantidade de marmitas necessária para todos os funcionários
presentes. Em seguida, eu e o gerente seguimos para o escritório, onde temos
dois computadores disponíveis — vamos utilizá-los para cadastrar e imprimir os
novos preços dos produtos que estão sendo reorganizados.
E assim chegou a primeira remessa de produtos — tanto para cadastro
quanto para impressão de preços. A manhã seguiu nesse ritmo intenso. Da sala do
gerente, consigo observar todos os setores pelas câmeras espalhadas pelo
mercado. Vejo alguns funcionários fazendo corpo mole, conversando mais do que
trabalhando, enquanto outros já se adiantaram e começaram a retirar os produtos
para a limpeza. Clara, como não me surpreende mais, está entre os que estão
realmente comprometidos com a tarefa.
Meu irmão precisou se ausentar para resolver pendências jurídicas. Essa
parte deixei sob responsabilidade dele. Afinal, tudo que foi decidido na
reunião passou antes pelos seus olhos e contou com sua opinião. Estou aqui para
ajudá-lo, não para tomar o seu lugar.
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