quarta-feira, 25 de junho de 2025

O acaso a meu favor - Página 03

 

Pagina 03 – Capitulo 01.

Fui recebida com muito carinho pelo meu irmão e sua noiva, Lia. Um abraço apertado foi necessário para entender o que meu irmão estava sentindo naquele momento: medo, talvez, ou quem sabe uma pitada de desespero. Mas, como uma boa irmã mais velha que sou, transmiti a ele segurança e todo o apoio de que precisava.

Ao me despedir dos dois para, enfim, descansar da viagem, tomei um banho quente. Ao sentir a água caindo sobre minha pele, soltei um pequeno gemido de alívio — meu corpo, enfim, recebia um pouco de conforto. Vesti algo leve, peguei o celular e enviei uma mensagem para Ana, meu braço direito na empresa que tenho em San Diego:

— Boa noite, Ana. Cheguei bem em Caldas. Qualquer problema ou dificuldade, não deixe de me mandar mensagem. Me mantenha informada sobre tudo que acontecer na empresa.

Desliguei a tela do celular e fui dormir. Um sentimento estranho me invadiu. A sensação de que alguém estava faltando. Faltava um abraço específico, um olhar específico… uma pessoa em especial. Enfim, me rendi ao sono — junto com tudo aquilo que eu estava sentindo — tentando me preparar para o dia seguinte.

Ao acordar na manhã seguinte, abri os olhos com um suspiro determinado, como de costume. Tomei um banho gelado para despertar o corpo — e, principalmente, a mente. Ao sair do quarto, passei pelo corredor que levava diretamente ao escritório do meu falecido pai. Um sentimento de conforto invadiu meu coração e me deixou ainda mais determinada a cumprir o que vim fazer aqui, em Caldas Novas.

Chegando à cozinha, senti o cheiro de café fresco perfumando o ambiente. Logo, minha voz soou:

— Acredito que vou querer uma xícara de café. — Disse com um leve sorriso.

Meu irmão, ao me ver sentando à mesa ao seu lado, abriu um grande sorriso — como se estivéssemos recriando uma memória antiga.

— Bom dia, minha irmã. — Disse ele, me cumprimentando com um beijo no rosto.

Vi Lia terminando de preparar o café que perfumava toda a casa. Logo ela se juntou a nós à mesa e a cumprimentei com um abraço apertado. Percebi sua felicidade ao me ver ali, e ela disse:

— Verônica, você não sabe a felicidade que é te ter de volta em casa.

Senti a sinceridade em suas palavras. Eu e Lia sempre nos demos muito bem. Lembro de algumas mensagens em que ela me contava o quanto Igor estava desesperado e preocupado com a situação do mercado.

Eles estão juntos há cerca de três anos. No ano passado, durante o aniversário de Lia, Igor a pediu em casamento — e a felicidade se espalhou por ambas as famílias. Fiquei emocionada ao saber que meu irmão encontrou a pessoa certa para fazer um pedido tão importante.

Entre risadas e brincadeiras, eu e meu irmão seguimos em seu carro, rumo ao mercado fundado por nosso pai.

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Por Mercado...

Ao parar o carro em frente ao mercado, uma avalanche de sentimentos — que até então eu tentava ignorar — veio como um soco no estômago. Permiti que algumas lágrimas escorressem, mas logo tratei de limpá-las. Como apoio, recebi um aperto reconfortante no ombro do meu irmão.

Esperamos o gerente abrir o mercado. Permanecemos em silêncio, pois meu irmão, que me conhece bem, sabe que para corrigir cada erro que levou nosso comércio à beira da falência, duas coisas são fundamentais: paciência e, principalmente, muita observação.

E, nesse curto tempo, já observei duas falhas: o atraso na abertura do mercado e a quantidade de funcionários que chegaram depois do horário. Esperamos cerca de vinte minutos até que, enfim, abrimos as portas do carro e saímos — cada um de um lado. A primeira impressão é a que fica, certo? Pois essa... ficou.

— Igor... — o chamei de forma a captar sua atenção. — Tem alguém responsável pela limpeza externa do mercado?

Antes de me responder, ele observou ao redor: calçadas, paredes, entradas. Então, virou-se para mim e respondeu, um pouco constrangido:

— Iremos cuidar disso. — disse, visivelmente envergonhado ao perceber a situação em termos de “primeira impressão”.

Percebi também que as paredes estavam bem desgastadas pela pintura antiga. Os banners que anunciam o que oferecemos estavam tão desbotados quanto, dificultando a leitura e a visualização do conteúdo. Nota mental: isso precisa ser resolvido com urgência.

Ao entrar no mercado, senti a ausência de uma figura crucial para o funcionamento do local: a caixa.

Igor, percebendo a mesma ausência, seguiu para dentro do mercado à procura da funcionária responsável pela função. Já haviam se passado trinta minutos do horário de abertura e todos os computadores e luzes do local ainda estavam desligados.

Aproveitei sua ausência e comecei a caminhar pelos corredores do mercado. Logo percebi a falta de organização e a negligência do funcionário responsável por algumas seções. Em contrapartida, outros corredores estavam impecáveis — um claro reflexo do comprometimento e eficiência de quem cuida deles. Outra nota mental: preciso conhecer cada funcionário. Especialmente os que fazem bem o seu trabalho.

Caminhando mais um pouco, encontrei caixas abertas e espalhadas nos corredores, como se alguém estivesse repondo os produtos, mas não tivesse conseguido finalizar — ou, pior, simplesmente tivesse deixado para terminar no dia seguinte.

Aproveitei o passeio para observar a estrutura do ambiente e percebi que, para arrecadar dinheiro, primeiro será preciso investir. O lugar precisa, no mínimo, parecer confortável para quem entra. Algumas lâmpadas estavam queimadas, prateleiras empenadas, e até os ventiladores precisavam de manutenção.

Antes de pensarmos em reerguer este lugar, será preciso uma boa reforma. E, para isso, preciso saber exatamente quanto temos em caixa, e se ainda existe algum valor disponível para realizar essa manutenção geral no mercado.


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