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quarta-feira, 25 de junho de 2025

O acaso a meu favor - Página 07

 Pagina 07 – Capitulo 01.

 

 Por Verônica....


 Ao ouvir o que aquela funcionária disse sobre os abusos sofridos aqui no mercado, eu fiquei sem palavras. Completamente sem palavras. Vê-la saindo dali como culpada por algo que agora é responsabilidade minha desestruturou todos os meus argumentos. Então percebo que o erro está muito além de maus funcionários; está na maneira como são tratados.

Sem reação, chamo a atenção de todos ali presentes e comunico algo que, talvez, se meu pai estivesse vivo, nunca aconteceria.

— O mercado ficará fechado por três dias. — Vejo a reação de espanto no rosto de todos, inclusive do meu irmão. — Esses três dias serão abatidos no banco de horas de vocês.

Percebo o alívio de uns, mas a frustração de outros também. Por isso, solto o verbo para todos escutarem.

— Se alguém tiver algo contra, que me comunique imediatamente! — Vejo o arregalar de olhos de alguns e a fúria no olhar de outros. — A partir de hoje, a gestão deste mercado muda. Podendo ser favorável para uns e desfavorável para outros. Vocês decidem!

É agora ou nunca. Não irei mais nutrir funcionários ruins punindo os bons. Essa gestão horrenda acaba agora. Peço um papel em branco e uma caneta ao gerente; ele, sem pestanejar, logo me traz o que preciso.

— Preciso do contato de cada colaborador presente, inclusive o da funcionária que acabou de passar por aquela porta. E daqueles que não estão presentes também. — Digo de maneira séria e direta. — Apenas o primeiro nome, função, o número e o turno já são suficientes.

Ao ver o primeiro funcionário pegar a caneta da minha mão, o vejo assinar rapidamente todos os dados que pedi — e assim foi com o próximo, e o próximo. Pego o papel em minhas mãos e vejo que alguém adicionou o número dos que não estão presentes. E o da Clara.

— Bom, meu intuito em ter o contato de vocês é porque quero conhecê-los.

Vejo algumas reações suspeitas, o que é normal, já que duvido que a maioria das empresas queira ter esse contato.

— Irei fazer um grupo, onde direi algumas novas regras sobre o emprego de vocês, porém tudo dentro da lei que protege cada direito do trabalhador. — Com olhos e ouvidos atentos, tenho mais uma vez a atenção de todos.

— Teremos uma reunião formal no dia em que voltarem às atividades normais aqui no mercado. — Sinto que, mesmo colocando as cartas na mesa, alguns colaboradores ainda estão insatisfeitos.

— E digo mais: se alguém entre vocês não estiver de acordo com nada que for imposto sobre a função de vocês, iremos dispensá-los, cada um com seus devidos direitos. Sem mais, nem menos.

Olho para aquele homem que se diz gerente deste mercado. Minha expressão séria e minimalista indica o quão egocêntrico e egoísta ele parece ser, agindo sempre em benefício próprio. Não é um defeito ser assim — mas agir dessa maneira com pessoas honestas, cujo único motivo é levar o sustento para casa, jamais.

Errei ao subestimar aquela garota, insinuando sua falta de responsabilidade com o emprego. Percebi que ela foi apenas mais uma vítima de um sistema manipulador, onde se paga um único salário a uma pessoa e se exige que ela exerça duas, três funções a mais — como foi o desabafo dela há pouco.

 

Não quero seguir adiante com uma gestão tão cruel assim. Por mais que eu não devesse me preocupar com isso neste momento, no fundo me importo. São pessoas sendo maltratadas por um sistema em que o governo atual não quer apenas a sua mão de obra, mas também lucrar em cima dos seus salários — os famosos impostos. Corrigirei meu erro com aquela menina — isso se ela não estiver, neste exato momento, contratando um advogado para nos processar por assédio moral.

Aquela garota parece ser meio marrenta, e quanto ao humor irritante... nem se fala. Mas, no momento em que deixou claro que vestia a camisa desta empresa sem ganhar nem um centavo a mais — e, pelo visto, ganhando muito menos do que em qualquer outra empresa aqui em Caldas Novas —, tudo mudou. Não significa que gostei da maneira como ela me abordou, mas, naquele caso, eu mereci ser tratada daquela forma. Agora, preciso ter uma reunião com o responsável por aquele abuso ter tomado a proporção que tomou: o Igor.

Nessa turbulência toda, não vi meu irmão abrir a boca para dizer uma só palavra. Com um olhar atento a tudo e a todos, o que talvez lhe reste seja mesmo o silêncio.

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