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quarta-feira, 2 de julho de 2025

O acaso a meu favor - Página 32

 Por Verônica...

Até agora, eu ainda não entendi o que aconteceu. Tirei os óculos e os pus sobre a mesa, afundando os dedos entre os cabelos, pensando: Mais um problema. E o pior — com a Clara envolvida. E ainda pior — envolvida de forma negativa.

Ainda não esclareci essa história, e, pra ser sincera, nem sei se quero. Estou sobrecarregada, com tantos problemas, tantas metas que precisam ser entregues antes da temporada de julho. Mal consigo respirar. Tudo parece se acumular ao mesmo tempo, e essa situação com a Clara veio como um peso extra que eu não pedi.

Vejo que, mesmo tendo agido com a intenção de fazer o certo, não me sinto bem por ter falado daquele jeito com ela. Observo Clara sair apressadamente, visivelmente atordoada, sem nem ao menos se despedir ou fazer aquela pequena festa que costuma fazer antes de encerrar o expediente. Aquela energia dela, sempre tão presente, hoje... sumiu.

Respiro fundo, e a culpa começa a me pesar no peito. Não era para ser assim. Não era para acabar assim.

Saio do escritório com a intenção de beber um copo de água — minha cabeça está prestes a explodir. No caminho, noto que um dos funcionários que está cumprindo aviso prévio permaneceu para finalizar a seção que o Augusto, no meio da confusão, não conseguiu organizar.

Enquanto encho um copo descartável de água e dou alguns goles, chamo por ele:

— Luiz.

Ele me olha, aguardando alguma ordem.

— Posso conversar um pouco com você no meu escritório?

O olhar dele muda imediatamente. Parece preocupado, como se tentasse, em silêncio, lembrar o que poderia ter feito de errado. Mas apenas larga o que estava fazendo e me segue, sem dizer uma palavra.

Ele entra no escritório, e logo peço que se sente. Ele obedece, ainda em silêncio. Viro minha cadeira, me posicionando de frente para ele, e pergunto com calma:

— Você estava próximo da situação das brigas entre as meninas... Pode me contar o que aconteceu?

Luiz me encara por um instante, visivelmente desconfiado. Pelo que percebo, ele é próximo das duas e parece relutante, talvez com medo de expô-las ou de causar algum problema maior.

Percebo sua hesitação e tento tranquilizá-lo, deixando claro que minha intenção não é prejudicar ninguém.

— Pode ficar tranquilo, Luiz. Nada do que me disser aqui será usado contra você ou contra as meninas — falo com sinceridade, olhando em seus olhos. — Mas alguma coisa aconteceu, e eu preciso entender. Quero evitar que isso se repita.

Ele respira fundo, ainda ponderando. Consigo ver no rosto dele o conflito entre a lealdade e o senso de responsabilidade.

Ao perceber que, de um jeito ou de outro, essa informação viria à tona — fosse dele ou de outro funcionário — Luiz cede.

— Parece que a Juliana insinuou que, por você e... — ele hesita. Tenta dizer o nome da Clara, mas a palavra não sai.

— Eu e...? — o incentivo com um olhar calmo, tentando passar confiança.

Ele baixa um pouco o olhar, respira fundo e, por fim, solta:

— Que você e a Clara, por estarem almoçando juntas algumas vezes... ou por passarem alguns minutos conversando no escritório... que ela estaria tendo privilégios aqui no mercado.

Fico em silêncio por um instante. O peso daquela suposição me atinge de forma amarga. Uma acusação velada, disfarçada de fofoca, mas que tem força suficiente para abalar relações, criar barreiras... e ferir.

Meu coração aperta. Não apenas pela injustiça da situação, mas pela forma como as coisas se espalham — silenciosas, cheias de veneno, sussurradas pelos cantos.

— Entendi... — murmuro, olhando fixamente para a parede por trás de Luiz, tentando digerir a informação. — E os outros funcionários? Elas comentaram algo, ou isso partiu só da Juliana?

Luiz balança a cabeça devagar, como se organizasse as lembranças antes de responder.

— No começo, só a Juliana. Mas depois... alguns começaram a repetir, sabe? Não com as mesmas palavras, mas com aquele tom. Como se tivessem comprado a ideia, mesmo sem provas. Foi aí que começaram os olhares atravessados, as indiretas... e aquele clima ruim.

Ele faz uma pausa, claramente desconfortável por estar expondo aquilo.

— Eu sei que a Clara.... ela irá se afastar um pouco por causa disso. E... sinceramente, deu pra ver que ela ficou bem abalada.

Fecho os olhos por um segundo, sentindo um nó se formar na garganta. A dor de saber que algo tão mesquinho conseguiu corroer o ambiente que lutei tanto para manter saudável é indescritível.

— Obrigada por ser honesto comigo, Luiz. Eu sei que isso não é fácil. — digo, com um leve aceno de cabeça.

Ele parece aliviado por ouvir isso, mas ainda inseguro. Então completa:

— Só... só tenta não deixar isso piorar pra elas, tá? Sei que você é justa. Só achei que você devia saber.

— Pode deixar. É exatamente por isso que estou tendo essa conversa. Preciso entender o que está acontecendo pra agir da forma certa. — respondo, firme.

Silêncio. Por um instante, apenas o som distante dos caixas e dos corredores preenchendo o espaço entre nós. Depois, Luiz se levanta devagar.

— Posso voltar lá fora?

— Pode sim, Luiz. E mais uma vez... obrigada.

Ele sai, e quando a porta se fecha atrás dele, me vejo ali, sozinha, sentindo o peso de mais uma camada dessa história — a que corre nos bastidores, longe dos olhos, mas que faz tanto estrago quanto um confronto direto.

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