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quarta-feira, 25 de junho de 2025

O acaso a meu favor - Página 13

Pagina 13 – Capitulo 02

Continuação da reunião - Por Verônica.

— Sobre os funcionários que têm filhos — meu olhar se dirige diretamente a alguns deles —, precisamos ser transparentes: a partir de agora, os atestados de acompanhamento médico serão aceitos apenas mediante comprovação adequada, com data e horário identificáveis. Isso é para garantir a organização da escala e evitar abusos.

Ouço algumas reclamações se espalharem pelo ambiente, especialmente vindas daqueles cujos nomes mais aparecem nos relatórios de faltas sem justificativa. A maioria alegava precisar levar os filhos ao hospital, mas em nenhuma das vezes apresentaram atestados ou qualquer comprovação de comparecimento. Difícil administrar uma equipe assim, onde o compromisso parece ser opcional.

Após uma breve análise dos rostos à minha frente, firmei a postura e deixei minha voz ganhar o peso necessário:

— Sei que erros foram cometidos. Não fui eu quem os cometeu, mas estou aqui para corrigir todos, doa a quem doer. E para quem tiver provas suficientes para me processar — ou acha que vai me intimidar com isso —, vou facilitar: podemos fazer um acordo de saída. Vocês saem agora, com todos os direitos pagos, e cada um segue seu rumo. Mas se decidirem ficar, quero comprometimento. Só há espaço aqui para quem trabalha com seriedade. O resto, pode procurar outro lugar.

 

Vejo alguns trocarem olhares, analisando a proposta, e já reconheço nos rostos de alguns quem provavelmente aceitará a saída imediata. Sem perder tempo, avanço para a próxima etapa — agora minha regra será voltada para a estética e a profissionalização no atendimento ao público.

— Todos! — elevo a voz o suficiente para cortar qualquer murmúrio. — A partir de hoje, exijo apresentação pessoal adequada: uniformes sempre limpos, unhas cortadas e cabelos organizados. O uniforme completo inclui calça jeans — de preferência, lavagem escura — e sapatos fechados, para evitar acidentes. Estamos lidando com o público, e a imagem da empresa começa pela forma como vocês se apresentam.

— A partir de hoje — declaro com firmeza, olhando nos olhos de cada um —, exijo atenção total e responsabilidade sobre cada setor. Cada repositor será designado como responsável direto por sua respectiva sessão.

— Se forem encontrados produtos vencidos, mal organizados ou com divergência de preços, a diferença será descontada do salário do responsável. Além disso, erros graves, como negligência no controle de validade ou exposição incorreta, terão consequências sérias. Não estou aqui para punir ninguém sem motivo, mas para garantir que o mínimo seja feito com excelência.

Depois de apresentar as regras superficiais para todos, deixo claro que alguns benefícios ainda serão discutidos e oferecidos àqueles que decidirem permanecer. Abro espaço para perguntas e esclarecimentos. Ao observar os rostos ao meu redor, noto que Clara, assim como alguns outros funcionários, está atenta — e seu olhar revela uma mistura de curiosidade e hesitação. Está claro que há dúvidas, e muitas delas parecem prestes a vir à tona.

Clara ergue a mão com cautela, mas com firmeza suficiente para se destacar entre os demais. Caminho visualmente até ela, acenando com a cabeça para que fale.

— Verônica — começa, com um tom respeitoso, mas direto. — Em relação às novas regras... O que acontecerá com as funções que antes eram acumuladas por um único funcionário? Haverá redistribuição de tarefas? Porque, se for pra manter a mesma sobrecarga com regras mais rígidas, não vai adiantar muito.

“Ah, então agora é só Verônica? No restaurante era ‘senhora’, quase faltou me chamar de Vossa Excelência…” — penso, com um meio sorriso discreto antes de responder.

Sinto o ambiente prender a respiração, mas não fujo da provocação. Clara não me desrespeitou. Apenas falou o que muitos queriam dizer.

— Excelente pergunta — respondo, mantendo o tom firme. — Sim, haverá redistribuição. E mais do que isso: quem permanecer, terá suas funções bem definidas, com metas e reconhecimento proporcional ao esforço. Mas o que não vai mais acontecer é exploração disfarçada de esforço coletivo.

Clara assente lentamente, mas ainda com a testa franzida. Pela primeira vez, vejo nela não só uma funcionária crítica — mas uma possível liderança em formação.



— Hoje reuni todos vocês porque preciso da colaboração geral para uma força-tarefa importante — digo, firme, observando cada rosto atento. — Vamos retirar todos os produtos vencidos, tanto das prateleiras quanto dos freezers e da adega de vinhos. Também quero a limpeza completa dos itens e a reetiquetagem dos preços. — Lanço um olhar rápido ao relógio; já estamos próximos do horário de abertura. — Uma pessoa será designada para cada função específica, e os demais irão auxiliar na retirada, higienização e reorganização dos produtos nas gôndolas.

Com as portas abertas e tudo em funcionamento, observo alguns funcionários colocando a mão na massa sem demora. Clara, pelo que percebo, optou por ajudar diretamente nas seções, movimentando-se com atenção entre os corredores. Me organizo rapidamente e ligo para um restaurante local, solicitando a quantidade de marmitas necessária para todos os funcionários presentes. Em seguida, eu e o gerente seguimos para o escritório, onde temos dois computadores disponíveis — vamos utilizá-los para cadastrar e imprimir os novos preços dos produtos que estão sendo reorganizados.

E assim chegou a primeira remessa de produtos — tanto para cadastro quanto para impressão de preços. A manhã seguiu nesse ritmo intenso. Da sala do gerente, consigo observar todos os setores pelas câmeras espalhadas pelo mercado. Vejo alguns funcionários fazendo corpo mole, conversando mais do que trabalhando, enquanto outros já se adiantaram e começaram a retirar os produtos para a limpeza. Clara, como não me surpreende mais, está entre os que estão realmente comprometidos com a tarefa.

Meu irmão precisou se ausentar para resolver pendências jurídicas. Essa parte deixei sob responsabilidade dele. Afinal, tudo que foi decidido na reunião passou antes pelos seus olhos e contou com sua opinião. Estou aqui para ajudá-lo, não para tomar o seu lugar.

Como estamos em um mês parado — o que aqui costumamos chamar de "baixa temporada" — decidi que irei fechar o mercado por, no máximo, uma semana. Esse tempo é essencial para reorganizar tudo internamente. Preciso garantir que, ao reabrir, o mercado ao menos funcione com o básico, de forma decente e eficiente.

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